Palácio de Lioness

A Capital de Lioness era um lugar agitado, com muitas pessoas andando por entre suas ruas, sendo um ótimo lugar para angariar dinheiro e criar riquezas. E era exatamente isso o que uma caravana de bardos pensava, decidindo ir até o lugar para fazerem sua pequena fortuna.

Parando no portão norte da cidade, guardas saem de suas guaritas para averiguar os viajantes.


- Bom dia caros viajantes, possuem documentos de identificação de Lioness? - Perguntou um dos soldados.

- Possuímos sim. - Diz o líder da caravana estendendo a mão com os papéis.

O outro dos seguranças olha por cima dos ombros do homem, que nota e o questiona.

- Algo de errado, senhor? - Perguntou em um tom sereno.

- Apenas averiguando se possuem não-humanos na caravana. - Respondeu o guarda. - Possuem?

- Não, não possuímos, somos todos humanos. - Respondeu. - Tem algum problema com não-humanos?

- Sim, tem. Como Gallien está fora do posto de Rei, o novo Rei, Zengate, baixou o decreto que todos os não humanos estão banidos do Reino de Lioness. Essa escória já causou dano demais à raça humana, então eles estão proibidos de entrar nesse reino. - Respondeu enervado.

- Tudo certo com os papéis também, não há nem mesmo um druida que pode muito bem ser confundido com um humano. - Disse o outro guarda, acalmando o exaltado. - Bom, sejam bem-vindos à gloriosa Capital de Lioness.

Os grandes portões se abriram, e a caravana de doze pessoas pôde entrar na cidade. Ela era exuberante, com várias casas de dois ou mais andares. Uma rua principal poderia ser seguida até o palácio, porém ela era sinuosa e cheia de comércios ao seu redor. Eles procuravam por um bar para poderem se apresentar e receber algumas moedas de ouro e assim galgar espaço até se apresentarem no centro da cidade, que só não era tão movimentado quanto Araruna, a capital comercial do Reino, por estar em uma posição em relação a uma grande estrada que a conectava com reinos de outros cantos da Britânia e com a cidade portuária de Lestalum.

- Papai, esse lugar é incrível! - Disse uma garota de cabelos loiros claros e olhos magenta. - Acho que vamos nos dar muito bem por aqui!

- Tem razão, Luna! - Disse o líder da caravana. - Talvez possamos até nos estabelecer aqui como uma companhia de bardos ao invés de caravana! - Falou com empolgação, e todos os outros sentiam a mesma coisa.

- Chefe, eu tenho um primo que mora aqui e ele me disse que tem um bar no fim da rua, podemos ir dar uma olhada por lá, talvez consigamos nos apresentar por ali.

- É uma ótima ideia. Vamo’ nessa, pessoal! - Ele gritou erguendo a mão, com os outros gritando de entusiasmo.

Eles seguem até o fim da rua, chegando na taverna Quatro Escudos. Uma grande taverna com quatro escudos sobre a porta fazendo uma espécie de cruz. Haviam dois guardas particulares que permitiam que viajantes deixassem suas coisas estacionadas na frente do lugar, coisa que o líder da caravana não via desde Grisgandor, quando era uma criança.


Deixando as coisas, entram na taverna, que estava num clima leve e nem foram notados, e se foram, foram apenas ignorados. Eles seguem até o balcão, onde um atendente aparece para os atender.

- Boa tarde, senhores! O que vão querer?

- Nos apresentar! Somos bardos! - Respondeu prontamente.

- Ora ora, não estamos pagando por bardos no momento… - Rebateu o atendente.

- Não precisa nos pagar, apenas as gorjetas e um espaço seriam o suficiente. - Disse o líder dos bardos.

- Bom, como não estamos com a casa totalmente cheia, podem escolher um canto e começar seu show. - Os outros bardos foram pegar os instrumentos e organizar a apresentação enquanto o seu líder ficou conversando. - Talvez isso até melhore as coisas por aqui… - Ele olhou levemente para baixo.

- O que aconteceu? O lugar parece tão animado...

- Não ficou sabendo? - Retornou a fitar o bardo.

- Não tivemos como parar em cidades ou vilas até aqui, então não, O que rolou? - Perguntou curioso.

- A princesa Camille, filha de Gallien, fugiu. E mais, dizem que a Saligia está voltando a agir! - Disse em um tom mais baixo.

- Não brinca… Fazem dez anos desde que eles debandaram.

- Sim, e parece que querem tomar Lioness para transformá-la em um novo reino de não-humanos!

- Isso tem cara de mentira… - Comentou o bardo.

- Não é. - Disse um homem sentado no bar. - Meu sobrinho Jack está em estado grave no hospital, e não para de falar que enfrentou o Capitão da Saligia, Nier da Ira. Alguns médicos dizem que são ferimentos idênticos aos de quem ele enfrentou no tempo da Saligia, então dificilmente seria apenas um imitador. Tempos sombrios se aproximam… - E voltou a beber.

- Bem, Zengate e as outras Virtudes são bem fortes, não? Eles não deixariam que Lioness acabasse desse jeito, embora eu ache meio bobagem o ódio contra não-humanos.

- Isso é porque seu pai não foi morto por um gigante que achou que seria legal fazer ele correr até pisar nele como um inseto. Ou seu irmão por fadas malucas que depois de matar os culpados por matarem alguém da sua espécie matavam inocentes por esporte. - Falou o homem sentado no bar.

- Família de soldados, pelo que vejo. - Disse o atendente.

- Exatamente. E antes que esse caos político entre humanos me atingisse, eu preferi me aposentar. Espero que Zengate consiga trazer paz, ao menos para o nosso Reino.

- Tem razão. - Comentou o bardo. - Já que fui meio grosseiro com o senhor, o que acha de escolher uma música para tocarmos para abrir nosso show?

- Eu gostaria de ouvir a canção sobre a Batalha das Rosas.

- Seu pedido é uma ordem.

Assim que acabaram de montar seu palco, começaram a tocar a música sobre a Batalha das Rosas, onde os Reinos de Drangleic e Benoic lutaram, e vários não humanos apenas se metiam no meio como caçadores em uma competição, até um homem acabar com vários deles de uma vez.


No Palácio, uma mulher de cabelos azuis muito escuros e acinzentados arrumados em um exótico penteado e olhos igualmente escuros e acinzentados, porém verdes, se levantou de sua cadeira e tocou no encosto do trono, trazendo o novo Rei, que fitava a grande Lioness, de volta a realidade.

- Fazia tempo que não ouvia cantarem sobre a Batalha das Rosas, Zengate… Pelo visto, os feitos de vocês caem todos sobre você, me pergunto se os outros estão bem com isso… - Disse a mulher para o homem de cabelos brancos e olhos lilases, com uma pequena tatuagem em baixo do olho esquerdo.


- Acredito sim que estejam, Hanna. O importante é saber o que você fez, não o que os outros acham que você fez ou deixou de fazer. Mas de fato, talvez seja melhor informar que os outros estavam no meio disso… - Respondeu Zengate, a Virtude da Paciência.


Com uma pequena explosão mágica, surgiu ao seu lado uma mulher de cabelos roxo escuros e olhos negros. fazendo os dois outros darem um pequeno salto, que não foi notado pela mulher.

- Creio que seja melhor desse jeito, Zengate. Desse jeito, é mais um argumento para lhe tornar o Imperador da Britânia. E claro, a derrocada da Saligia pelas nossas mãos, liderados por você, torna um argumento que é tão sólido que está na beira de ser material.  - Retrucou Glenn, maga da Psychomachia e Virtude da Humildade.

- Tem razão, Glenn. Inteligente como sempre. - Respondeu o homem. - E como está a situação da Princesa? Ela já achou alguém desde sua fuga?

- Pelo que dizem, ela achou justamente Nier, o Capitão deles. - Falou Hanna.

- Achei que ela morreria antes… Ela não é forte nem perita em magia, chegava a ser improvável sobreviver. - Disse Glenn pensando em Camille.

- Possivelmente foi pela vontade dela. Uma vontade de “salvar” seu Reino e o entregar para Gallien novamente, que sempre continuou negligenciando a nós, humanos, e nem pensando em se tornar Imperador. Me pergunto o que ele e Uther tinham na cabeça…

- Vai saber… - Respondeu Glenn. - Mas ao menos você preza por nós, humanos, e vai dar um jeito nisso.


Os três ficaram quietos, com Glenn e Zengate olhando pela janela a bela Capital de Lioness, mas Hanna estava pensativa. Sabia que estava deixando algo passar, e isso a estava incomodando bastante, até que conseguiu se lembrar o que era.

- Zengate, eu acabei de lembrar de algo. Convoque imediatamente o pessoal, pois há algo importante para avisá-los.

- Bom, vindo de você deve ser algo maravilhoso. Em alguns dias estarão aqui, então pense em seu discurso. - Respondeu o homem de cabelos brancos.

Ele fechou os olhos e começou a concentrar sua magia, para usar a sua telepatia para convocar todos os membros da Psychomachia.

Pessoal, ouçam todos. Acabem imediatamente o que estão fazendo e retornem para a Capital de Lioness, é uma reunião emergencial. Temos um novo e possivelmente derradeiro trabalho pela frente.

O chamado mental de Zengate ecoou na mente de todos os membros da Psychomachia, que correram de encontro ao seu líder o mais rápido possível. A primeira a chegar, quase que instantes após o chamado, foi Kyara, que parecia animada.


- E aí, capitão! E aí Glenn! Oi Hanna. - Cumprimentou a última de forma seca. - O pessoal ainda não chegou? Que lentos! - E começou a rir.

- É claro que não chegaram, você sempre é a primeira. - Respondeu Glenn. - Não sei nem quanto demorarão para chegar, porém você pode nos ajudar e preparar a mesa retangular em nossa sala de reuniões.

- Eu não quero! - Respondeu e saiu correndo.

Glenn apenas pressionou os olhos com o indicador e o polegar em claro sinal de desaprovação à atitude da companheira.

- Por que ela ainda está no time, Zengate? - Questionou a maga da Psychomachia, pensando se deveria ir atrás da fujona.

- Ora, ela é forte. Possivelmente a lutadora de corpo a corpo mais talentosa do grupo. Além de ter uma virtude difícil de achar nesses dias…

- Realmente… Alguém forte e casto é incrivelmente irritante de se encontrar. Talvez seja um golpe de sorte termos achado ela. - Completou a Humildade.

- Ou talvez seja o próprio destino agindo ao nosso favor. - Disse uma voz diferente das presentes ali, atravessando um portal.

- Ora, ora… Se não é meu irmãozinho. Chegou cedo, Vincent. - Falou Zengate com um sorriso no rosto.

- É importante ser diligente, Zeni. - O homem de longos cabelos verdes e olhos roxos chamou seu irmão pelo apelido.


- Já que é assim, você pode me ajudar a organizar aquela sala, não é? - Perguntou a maga sorrindo.

- É claro, mademoiselle. Mostre o caminho. - Fez uma reverência, fazendo com que ela tomasse a frente.

Quando Zengate estava sozinho com Hanna, se manteve a olhar seu reino, pensando em tudo que já havia feito e passado para chegar até ali. Todas as batalhas, todas as incursões, a vez que foram ao continente… Tudo passava por sua cabeça.

- Sabe, Hanna? - Disse chamando atenção da mulher. - Acho que o destino está finalmente sorrindo para nós.

Ela apenas sorriu. Sua frase era para ele e seus companheiros, e para ela tinha um significado um pouco diferente, porém ainda assim…

- Eu também acho.

Passados alguns dias desde o chamado, todos os membros da Psychomachia chegaram. Primeiro Torgan, a Virtude da Generosidade, o outro irmão de Zengate e Vincent. Após ele Vanalya, a Virtude da Caridade, que tentou chamar Zengate ou Glenn para sair, mas ambos não entenderam seu convite - que de fato era estranho e não muito animador. E por fim Jaeger, Virtude da Temperança, que culpou não ter chegado antes a artrose devido a idade mais avançada.

Todos se reuniram na sala da mesa retangular, com Zengate em uma ponta e Hanna em outra, com um homem enorme de cabelos vermelhos curtos penteados para trás e olhos amarelos ao lado direito de Zengate. Aquele era Torgan. Ao lado de Torgan estava uma mulher de cabelos lilases e olhos roxos, Vanalya. Ao lado dela, situava-se Kyara, que estava com a cadeira invertida e abraçando o encosto.

Do lado esquerdo estava Glenn, seguida por Vincent, e por fim um homem com uma grande entrada nos cabelos longos, com o rosto coberto de marcas da idade e com um monóculo no olho esquerdo, às vezes o reflexo escondia seus olhos rosas. Esse senhor era Jaeger.

Com todos sentados, Zengate deu dois toques na mesa, atraindo a atenção de todos para ele.

- Bom, talvez nem todos saibam por que eu lhes chamei aqui ainda. E como não quis gerar animosidades e, mais importante, quis confirmar se os rumores eram verdade, guardei essa informação sem lhes dar detalhes. Acho que é de conhecimento comum que a princesa Camille fugiu da nossa querida Capital, e foi atrás de reunir aqueles imundos da Saligia. Talvez tenha sido aquele frouxo do Gallien que alimentou ela com histórias sobre eles ou só uma dedução sobre poderes. E pasmem: ela conseguiu achar pelo menos dois deles. Os Cavaleiros Sagrados que os enfrentaram afirmam que são Nier, o Pecado da Ira, e Skanfy Lunae, Pecado da Preguiça. Eu não sei se nossas tropas são incompetentes ou o que, mas o fato é que a princesa está reunindo companheiros para nos derrotar. E é claro que a nossa guardiã e guia, Hanna, já criou um plano, ou pelo menos uma base de um, para nos ajudar a combater esse mal de não-humanos que assolam nosso reino.

Todos voltaram sua atenção para Hanna, que sorria do outro lado da mesa.


- Exatamente como Zengate falou, eu tive uma ideia. Como foi dito, eles são compostos basicamente por não-humanos, e poderíamos tirar vantagem desse fato para fomentar ainda mais o discurso que eles querem transformar nossa amada Lioness em um paraíso para não-humanos. Além disso, uma coisa veio à minha mente. Com o sangue do capitão deles e da princesa, possivelmente poderemos fazer um ritual para destruir todas essas raças imundas que poluem nosso mundo. Eu possivelmente precisarei de mais tempo para encontrar o exato livro com esse ritual e reunir os outros materiais necessários, então podemos deixar com que eles se reúnam, fica até mais fácil para os atrair para cá. Quanto mais fortes acharem que estão, mais confiantes ficarão, e virão correndo “salvar o reino”. - Discursou Hanna. E ainda… Se o ritual der certo, eu vou poder ocupar o lugar vago! Desde que ela abandonou os anjos, o Pacifismo ficou livre, e eu, como a libertadora deles, poderei me juntar à Elite Celestial! Por um milésimo de segundo, seus olhos ficaram amarelos vivos, quase brilhando. Eles às vezes esqueciam, porém Hanna era a Anja das Rosas Negras, que fora selada juntamente de sua raça três mil anos atrás, mas esses lapsos de magia angelical os relembravam.

- Então… - Começou a falar Kyara. - A gente vai só deixar eles se reunirem? Parece bem chato…

- De verdade. - Comentou Torgan. - Se eles virão até nós, quero esmagá-los com eles estando afiados, para mostrar que somos e sempre fomos superiores.


- Zengate, Glenn, vocês tem alguma ideia? - Questionou Vanalya. Ambos olharam para cima confusos, sem muitas ideias em mente.


- Eu posso invocar monstros com meus portais e mandar atrás deles… - Falou Vincent, atraindo a atenção de todos.

- Eu chego a ficar orgulhoso de um jovem tão esperto quanto você… - Disse Jaeger em um tom irônico.


- Você vai mandar o que atrás deles?! - Kyara estava de pé, entusiasmada.

- Eu não sei… Mais importante do que mandar algo atrás deles, é “onde eles vão estar?”.  - Todos ficaram em silêncio, exceto por Glenn.

- Possivelmente Rodório. É a cidade mais densa, então alguém deve estar lá. E nós temos um deles preso. Podemos marcar sua execução e avisar os guardas, e essa informação deve chegar aos ouvidos deles, então vão querer salvar logo seu amigo. - Falou Glenn confiante.


- Há algum jeito de prever quem eles vão adicionar ao grupo? - Respondeu Zengate, pensativo.

- Não… Mas poderíamos tentar descobrir para onde irão assim que saírem da cidade, e mandar nosso próximo adversário em seu encalço, não? - Disse Torgan.

- Eu devo conseguir prever usando meu sexto sentido ao máximo, então apenas se concentrem em quem e quando mandar. - Falou Jaeger, fazendo todos se animarem.

- O que você vai mandar pra Rodório, Vinvin? - Perguntou Kyara animada.

Ele levou a mão ao queixo, pensativo. Haviam muitos monstros para os enfrentar, então o melhor seria começar com algo fraco, porém desafiador.

- Gárgulas! - Gritou animado.

- É uma ótima decisão, irmão. - Respondeu Zengate.


- Você poderia me emprestar uma, Vincent? - Pediu Hanna. - Há algo que gostaria de fazer para testar.

- Claro, fique à vontade. Assim que sairmos, eu lhe acompanho e te entrego uma delas.

- Então está decidido. - A voz de Zengate ecoou pelo salão, arrancando um sorriso de todas as Virtudes. - A Saligia será, mais uma vez, nossa escada para glória!

Glenn fez canecos de cerveja aparecerem nas mãos de todos, que brindaram felizes com seu novo plano.

Dentro do palácio de Lioness, atravessando os enormes corredores de pedras frias que eram mal iluminadas pelas tochas e candelabros do lugar, duas mulheres andavam aparentemente em direção à sala de guerra. Uma delas tinha cabelos loiros e olhos roxos. Ela andava jogando uma pequena esfera de cristal como se fosse um brinquedo para cima e para baixo.

A mulher ao seu lado, por sua vez, tinha cabelos e olhos roxo escuros , e olhava com tom de desaprovação para a atitude de sua companheira. Ela olha bem nos olhos lilases distraídos de sua companheira e grita:

- Ei, Kyara! Pare com essa droga!

- Mas Glenn, é tão chato esse castelo, não posso nem brincar?


Ambas, é claro, eram Kyara e Glenn, as virtudes da Diligência e Castidade, respectivamente. Em mais um arremesso de Kyara, Glenn agarra no ar a esfera e a repreende mais uma vez.

- Isso não é um brinquedo, sua maluca! Isso é um selo que carrega o que Zengate e Hanna precisam no ritual! – Berrou com Kyara.


- Que sem graça... – Protestou a Diligência. – Mas eu acho que não tem o que fazer, né?

- Não, não tem.

Kyara começa a andar fazendo bico, e isso faz com que Glenn solte um suspiro. Ela invoca uma bola de pano e entrega para a Diligência, que solta um sorriso de orelha a orelha;

- Muito obrigada Gleni! – Ela começa a abraçar a Castidade esfregando seu rosto no dela, que tenta se desvencilhar, mas não consegue. Até que algo tira Kyara de cima dela.

Um homem de mais de dois metros de altura, cabelos vermelhos escuros muito curtos e olhos amarelados segurava Kyara no ar, a afastando de Glenn.

- Olá Tori! – Kyara sorri para Torgan, que estava a erguendo na altura de sua cabeça.

Uma veia em sua testa salta, e antes que ele pudesse atacar Kyara, ela está fora da sua mão batendo suas roupas, um pouco atrás deles. Ele apenas bufa para a Diligência, que agora se divertia com a bola de pano que recebeu de presente.

- Pelo visto a missão foi um sucesso. – Falou se juntando às duas em seu caminho.


- Com certeza. – Glenn mostrou a esfera de selo. – Aqui estão Nier e Camille. – Ela entrega a esfera para Torgan que a observa com cuidado.

- O que acha, Vincent? – Fala olhando para seu lado. – Eu sei que está aí.

Um portal se abre no ar, e de dentro dele sai um homem de cabelos verdes longos.

- Acho que elas fizeram um bom trabalho. Parabéns vocês duas! – Glenn apenas revira os olhos, mas Kyara pula nas costas da Caridade.


- Vinceeent! – Ele a agarra quando ela pula e a segura em suas costas. – Tudo bem? – Ele solta um suspiro e confirma com a cabeça.

- Poderia sair das minhas costas?

- Nem pensar.

Ele apenas suspira e aceita que terá que carregar Kyara. Ao andarem pelo corredor, um senhor de cabelos pretos e um monóculo se junta a eles. Jaeger, a Humildade.

- Kukuku... Mal vejo a hora de ver o que Zengate e Hanna planejam com isso. – Fala com uma risada ameaçadora.


- JaJa! Como vaaai?! – Grita Kyara das costas de Vincent, mas é ignorada.

- Parece que estão se divertindo aqui. – Uma mulher com cabelos lilases e olhos roxos se aproxima, com um tom sarcástico. – Se importam se eu me juntar também?


As outras virtudes dão de ombros e Vanalya se junta aos seus companheiros. Ela vê a esfera de Glenn, que estava com uma veia pulsando em sua testa por estar cercada de pessoas que não calavam a boca, e começa a falar.

- Então aí está o grande capitão da Saligia e a princesa do reino? Não me parecem grandes coisas.

- E não são! Foi realmente fácil capturar eles! – Fala Kyara animada.

Após andarem mais alguns metros, dão de cara com uma grande porta dupla. Eles a abrem e dentro estavam Zengate e Hanna, com o primeiro olhando pela janela e a última sentada em uma mesa, bebendo algum chá.

- Consegui ouvir vocês desde a entrada do castelo, principalmente você Kyara. – Falou Zengate, sem tirar o olhar da janela. A mesma se encolhe nas costas de Vincent, tentando fugir da visão de Zengate. – Mas isso não importa. Ao menos, não precisam reportar seu relatório.


As virtudes se ajoelham perante seu capitão, que se vira para eles. Glenn, que não se ajoelhou, foi andando até ele e entregou o selo. Ele fez um sinal com sua mão, e os todas as Virtudes saíram de sua sala, deixando ele a sós com Hanna.

Hanna, apesar de silenciosa, estava sempre pensando em algo ou tramando algo obscuro para colocar em prática, ela podia sentir a enormes distâncias o nível de poder de cada membro da Saligia que já havia sido reunido, mas um ainda estava oculto além do próprio capitão. Outro poder enorme poderia lhe atrapalhar de conquistar os seus objetivos, o sétimo membro ainda era um mistério e ele já havia a atrapalhado uma vez, ela não podia deixar que isso acontecesse novamente.

- Bem agora que nossas promissoras jovens já nos trouxeram um lixo terrível e sua donzela indefesa igualmente estúpida, precisamos encontrar a última peça desse quebra-cabeças... – Ela fala com um suspiro irritado. – A peça que pode botar tudo a perder, o Pecado do Orgulho, Krioni. -Ela faz uma pausa e se levanta da mesa. – Um mago extremamente habilidoso e poderoso, mas meus feitiços de localização não funcionam – Hanna fez uma breve pausa – É como se ele tivesse se apagado do mapa, mas... – Hanna parou e se colocou a pensar novamente.

Tinha que haver alguma ligação que colocasse Krioni a vista, e ela precisava ser rápida afinal Kyara e Glenn já lhes trouxeram seu pedido, foi quando Hanna se lembrou que Camelot, um reino vizinho antes mergulhado em caos, agora estava próspero e poderoso, um local onde ninguém se atrevia a guerrear. Ela arregalou os olhos e imediatamente ligou os pontos.

- Zengate! Eu preciso do seu sangue, preciso que me dê de bom grado. Não posso arrancá-lo à força pois dessa maneira eu não conseguirei invocá-lo. – Zengate, que estava apoiado na janela a fitava enquanto falava seu plano. – Está na hora de alguém guerrear com Camelot e tirar um rato da toca.


Ela ria com o canto da boca, quando Zengate se levantou e ofereceu seu sangue para Hanna.

- Hanna, eu lhe entrego todo o sangue que precisar de bom grado e pelo poder investido a ti eu lhe peço que invoques da mais profunda escuridão, para que de uma vez por todas traga a ruína sobre Camelot!

Não foram precisas mais palavras para que ouvissem vozes como sussurros guturais que ecoavam pelo grande salão.

- Então nos encontramos novamente Hanna, e vejo que agora está acompanhada de aliados mais poderosos! – Sua risada áspera escoava pelo salão. – Eu vou ao que me pedes, mas saiba que isso lhe custará muito caro, não apenas uma gota do sangue profanado!

Um rugido grotesco foi ouvido por toda Lioness, e como uma estrela cadente se dissipou sobre o céu e foi caminho a Camelot.

Zengate estava como de costume, sentado e calado olhando do castelo para os arredores, para tudo que estava acontecendo. Os pecados estavam finalmente invadindo a capital, como haviam previsto que aconteceria. Em seus dedos, segurava dois objetos conhecidos, duas orbes de contenção que brilhavam imensamente. Uma delas continha um brilho negro e escurecedor – que mal podia ser chamado de brilho, já que parecia tragar a luz – e a outra com uma luz pura e até quase divina.

- Humpf! – Bufou Zengate. – Eles acham mesmo que não estamos esperando por eles? Julgam muito mal seus oponentes.

Olhando por cima dos ombros, Zengate podia ver todas as virtudes atrás dele e posicionadas, aguardando apenas suas ordens. Glenn ouvia e observava tudo, sentada em uma das cadeiras com a sua face fria e calculista de sempre, esperando pelas palavras de seu capitão, que aparentemente que mencionariam a ela logo a seguir.

- Glenn, você ficará aqui e será responsável por auxiliar os outros nas batalhas, juntamente com Hanna, até que nosso próximo convidado chegue, se é que já não está morto.


Zengate sorriu, e seu sorriso causava medo em quem quer que estivesse por perto, até mesmo nas pessoas que já o conheciam há eras. Glenn, por sua vez, apenas assentiu com a cabeça, e se levantou de sua cadeira.

- A hora do despertar está mais próxima do que podemos imaginar, em breve Lioness e toda Britânia será banhada em pavor e sangue, agora vão... Nossos convidados os esperam.

Ditas estas palavras, as virtudes sumiram e Glenn tomou sua posição no centro da sala, auxiliada por cinco artefatos mágicos que flutuavam ao seu redor e ao redor de Hanna, onde no momento podiam ver a face de cada pecado.

- Hanna, nosso dever é garantir que nossos companheiros recebam de nós maiores poderes para esmagar esses insetos, conto com a sua ajuda para atingirmos nossos objetivos.


Dito isso, Glenn fechou seus olhos e começou a pronunciar palavras do que parecia ser de um antigo ritual, Hanna sorriu pois conhecia bem o tal ritual e prosseguiu com as mesmas palavras. Logo o círculo de magia no qual se encontravam se acendeu e a batalha então poderia começar.

Tal magia, que ambas estavam conjurando, era uma magia suprema de combate, capaz de aumentar a força e resistência física e mágica dos alvos, bem como os garantir maior vigor e capacidade de regeneração. Após melhorarem as chances de vitórias dos seus aliados, ambas se colocaram em outro círculo mágico, agora para seus planos com os orbes.

Com o avançar do ritual, um vento gélido afiado como lâminas de espadas começou a entrar no palácio de Lioness, fazendo com que todos os guardas ali presentes começassem a suar frio, temendo por suas vidas. Todos sabiam do que Zengate e todos os outros da Psychomachia eram capazes de fazer.

Uma risada maligna cheia de ódio e rancor se ouvia ecoar pelos vários cantos do Palácio, como se estivesse em todos os lugares, ao mesmo tempo que não estava em lugar nenhum. Essa risada era desconhecida para todos que ali estavam, menos para duas pessoas que trabalhavam com ela. Tal risada era Hanna, a mente mestra por trás da Psychomachia, também chamada de Virtude da Determinação.

- Muito em breve o ritual estará completo, e os verdadeiros salvadores do mundo estarão presentes novamente! – Seu olhar era fixo para o círculo mágico, como se seus olhos tivessem seu desenho. Seu sorriso parecia rasgar suas bochechas de tão grande, e chegava até mesmo a fazer um gélido calafrio percorrer a espinha de Glenn. – Zengate, precisaremos primeiro do sangue maldito. Conhecendo o poder desse homem, uma gota bastará.


- Como desejares. – Zengate não estava participando do ritual em si, afinal não era um virtuoso nas artes mágicas, como alguns de seus companheiros. Mas estava ali para auxiliar as duas e as defender caso algo saísse do planejado. Ele pegou a orbe de aprisionamento na qual Nier estava preso e o retirou de dentro dela, desacordado. Ele puxou uma adaga ritualística e fez um corte no braço do garoto, e entrega a adaga para Hanna, que a pega cuidadosamente.

- Pode prendê-lo novamente. Será um problema caso ele acorde. – Zengate acata a ordem de Hanna e prende Nier de volta na orbe de aprisionamento, sem que ele sequer desse sinal de vida além de seu corpo respirando. – Glenn, irei inserir o sangue. – Avisou para que nada saísse errado. Um erro por uma informação mal passada ou mal compreendida era mais do que algo que custasse a vida de quem errou, mas algo que colocaria todo o plano de anos de Hanna no lixo.

- Certo, sem problemas. – Responde em seu habitual tom inexpressivo Glenn.


Hanna pinga uma gota de sangue no círculo mágico entre ela e Glenn, fazendo-o adquirir um brilho vermelho escuro, soltando raios mágicos rubros tão escuros que quase pareciam ser pretos por tamanho poder obscuro. Em um tom moderadamente empolgado, Hanna volta a chamar Zengate.

- Agora, o sangue puro. Zengate, por favor.

Ele responde com uma reverência, e retira Camille da orbe de aprisionamento. Também desacordada, recebe um corte no braço pela adaga cerimonial, e Zengate entrega a adaga para Hanna.

Ela pinga a gota de sangue e vê o círculo, bem como os raios, ficarem mais claros devido ao sangue da princesa. Ela nota que Zengate estava com a orbe de aprisionamento na mão e que se preparava para prendê-la no instante da ordem.

- Não a prenda novamente, talvez precisemos de mais de seu sangue. – Disse observando o ritual não ficar tão claro de imediato. – Prenda-a com seus fios por garantia, não queremos ela correndo pelo Palácio.

- Como quiser. – Zengate acata o pedido de Hanna, e prende Camille com seus fios, amarrando suas mãos para cima e seus pés para baixo, fazendo com que ela ficasse suspensa. Então, a mulher de cabelos negros começa a pingar mais algumas gotas do sangue da garota, enquanto Glenn se concentra em manter a estabilidade, juntamente da mesma que não podia errar sua dosagem.


Logo o ritual estará completo, e eles poderão retornar! Esperei três mil anos por isso... Nada pode dar errado agora, NADA!

Em um estalar de dedos de Krioni e em um redemoinho que passava pelo hall de entrada, ele, Arthuria, Lancelot e Perceval saíram de dentro do mesmo encarando todos os presentes em um salão escuro e ritualístico.

Hanna olhava com desespero para aquela cena, bem como Zengate e Glenn que também foram pegos de surpresa. O Pecado do Orgulho tomou a frente e sorriu para os três, se colocando a falar.

- Como vão senhoras e senhor? Se bem me lembro, vocês estão com algo que me pertence, e bem eu tenho um presentinho pra vocês. – Krioni soltou uma leve risada e em um simples movimento com as mãos, fez aparecer e cair do teto do salão causando um estrondo que ecoava pelo Palácio inteiro. O objeto que causou tamanha comoção era nada mais nada menos do que a cabeça do Leviatã, que havia sido enviado por eles para o matar.


-Nunca mais mandem um serviçal fazer o serviço de uma divindade.

Antes que Hanna pudesse fazer algo, Krioni a prendeu com algumas amarras de sombra e logo pôde ouvir Glenn sussurrar algumas palavras antigas, carregadas de magia. Uma veia saltou da testa de Krioni, que esbravejou contra aquilo.

- Não recite os antigos textos arcanos para mim, sua pirralha ridícula, eu os escrevi e os conheço bem! Spell Cancel!


Glenn sentiu o grimório que possuía em suas mãos arder em chamas negras que consumiam o livro e acabariam por consumi-la se ela não o soltasse.

-Se você não é capaz de conjurar algo sem um livro, talvez não mereça possuir tais poderes. – Glenn tentava utilizar alguma magia e ao mesmo tempo livrar Hanna do feitiço do mago, mas era em vão, Zengate tentava conjurar seus fios mágicos, mas também falhava miseravelmente. – Além disso, essa sua magia mesquinha de aumento de poder está me dando nos nervos, então vou aproveitar essa localização privilegiada e acabar com essa palhaçada! Absolute Cancel! – O Mago Supremo apontou sua mão para fora do Palácio, e sua magia percorreu o ar atingindo as Virtudes melhoradas pela sua maga, cancelando seus poderes.

Krioni piscou seu olho direito, o mesmo que possuía uma tatuagem, sua íris e sua pupila sumiram, dando lugar a uma runa vermelha que ocupava todo seu globo ocular. Ele estava realmente levando a sério aquela luta, afinal mostrar aquilo era algo que nem a Távola Redonda viu mais do que uma vez.

- Eu vou lhes explicar como funcionam o meu Spell Cancel e o meu Absolute Cancel. No primeiro, toda e qualquer magia que eu não permitir em um raio de 2 quilômetros está agora inútil, o que significa que o orbe de aprisionamento já não pode mais conter Nier, e o círculo de invocação que vocês estavam utilizando se tornou apenas um monte de sangue inutilizável. E a segunda magia apaga qualquer magia que fora usada, sem deixar sequer vestígios.

Os três oponentes estavam em choque. Suas magias não funcionavam mais, e seu adversário os humilhara completamente, deixando-os impotentes contra aquela presença quase divina. Se ele já não fosse problema suficiente, ele ainda estava acompanhado de Arthuria Pendragon, Rainha de Camelot, e dois de seus Cavaleiros da Távola Redonda, Sir Lancelot e Sir Perceval.

Antes que pudessem dizer alguma coisa, Krioni viu Nier caído ao lado da Deusa Âmbar, desacordado ainda. Ele se aproximou dele, e o virou para ficar com o corpo para cima.

- Me perdoe Capitão, isso não deveria ser usado dessa maneira!

Krioni o envolveu juntamente com Camille em uma espécie de aura dourada e curadora. Ele voltou a encarar seus adversários, estalou seu pescoço e os dedos e os encarou, com um sorriso arrogante e determinado nos lábios.

- Agora a verdadeira luta irá começar!

No topo do palácio, no salão ritualístico que antes Hanna usava com seus companheiros, se encontravam, juntamente das duas Virtudes remanescentes, Arthuria Pendragon, Lancelot e Perceval, além do Mago do Orgulho Krioni. Esse último, por sua vez, tratou de humilhar seus oponentes, impossibilitando momentaneamente Hanna e tirando os maiores poderes de Glenn de um grimório antigo que ele mesmo escreveu no passado.


Zengate, sendo o único lutador físico dos seus companheiros, invocou sua espada e disparou na direção de Krioni, mas foi interrompido por Arthuria. Quando suas espadas se chocaram, imediatamente seus olhos se cruzaram. A determinação gigantesca da Rainha estava blindando seu ódio perante os oponentes e sua imensa vontade de decapitar todos eles pelo fio de sua espada, porém Krioni exigiu que ela tratasse com mais calma tal assunto.

- Se você quer uma luta de espadas, sinto muito em lhe informar que a sua oponente serei eu, e eu não demonstrarei a menor piedade, Zengate. – Sua voz ríspida e fria era tão afiada quanto sua espada.


A Paciência estalou a língua e recuou, se colocando entre seus oponentes e suas aliadas, a fim de protegê-las até que pudessem lutar novamente, mesmo com tal desvantagem numérica.

A situação era amplamente desfavorável para as Virtudes. A cavalaria de Camelot conseguiu, sem sequer, fazer grandes ataques diretos e abalar a moral dos três do alto escalão de Lioness, os encurralando em seu próprio território.

A presença de Arthuria Pendragon os fazia ficarem aflitos apenas por estarem na mesma sala que a poderosa Rainha de Camelot, porém Krioni era algo ainda mais assustador. Seu olhar repleto de desdém demonstrava que ele estava de fato acima de seus oponentes, moralmente e em termos de poder. Os outros dois que acompanhavam também eram adversários a serem temidos, tão fortes quanto as Virtudes – se não fossem ainda mais poderosos.

Encurralado, Zengate usou sua magia de fios para atacar os oponentes, mas cada um lidou de seu jeito. Krioni fez desaparecer aqueles que chegavam perto de tocar nele, Arthuria cortou os em sua direção com sua espada e Lancelot fez o mesmo, mas com sua magia de vento. Já Perceval incinerou os que iriam tocar nele, e isso o fez lembrar de algo.

- Ah é! Merlin, por acaso esse Nier ali é o poderoso usuário de chamas que as lendas contam? Tipo, aquele que era o general de Grisgandor e depois capitão da Saligia? – Seu bom humor era aquém da seriedade da situação – embora ele mesmo soubesse que essa estava mais do que bem controlada –, mas isso não incomodava seus aliados, que já estavam acostumados com isso.


- Exatamente. Algum motivo para perguntar isso? – Indagou Krioni, sem tirar os olhos dos oponentes.

- Sabe, é que meu pai visitou Grisgandor no passado e disse que o próprio general o salvou, então queria agradecer por isso... – Disse com as bochechas rosadas. – E claro, eu quero lutar contra ele! Ele parece ser bem forte! – Seu entusiasmo era tanto que podia quase palpá-lo na realidade.

- Ei, isso não é hora pra esse tipo de pensamento! – Repreendeu Lancelot. – Nós estamos no meio de uma luta crucial para toda a Britânia!

O Cavaleiro rangeu os dentes. Ele estava fora de sintonia com a situação, embora disse o que veio em seu coração.

- Ele está certo, Perceval. – Falou Krioni. – Mas possivelmente depois que isso acabar, você pode ter sua luta com ele. Então trate de ajudar a derrotar os nossos inimigos, e então pode se divertir.

- Oba! Aí sim, Merlin! – Comemorou o loiro. Arthuria e Lancelot apenas suspiraram, sem saber se era irritação ou alívio.

- Vejo que acabaram sua conversinha... – Falou Hanna, agora livre de suas amarras. – O que acham de provar meu poder?


Ela estendeu as mãos, mas apenas teve elas novamente amarradas por sombras que saíam do chão. Krioni ainda mantinha o olhar de desdém para ela, que quando ia profanar alguns xingamentos, fez uma mordaça de sombras.

- Já te disseram que sua voz dá dor de cabeça...? – Falou o mago esfregando a testa.

- E um golpe nela também. – Falou Zengate, que havia se aproximado sorrateiramente por fios e se movido pela impulsão dos mesmos. Colado ao chão, pretendia subir o golpe pelo movimento sorrateiro, mas foi impedido por um animal que não pôde identificar, e sua espada, parada por um tridente.

- 8º Contrato de Invocação: Genbu. – Quando Zengate olhou, notou que atingiu um casco de uma tartaruga do seu tamanho. – Não pense que vai conseguir atacar alguém de surpresa em minha presença. E nem espere passar por Genbu, seu casco é muito mais resistente do que você pode imaginar.

- Não ache que minhas magias são apenas vindas de um livro velho! – Bradou Glenn, que se aproximou pelo outro lado. – Iron Guillonite!

Antes que a sua magia pudesse chegar em Krioni, Perceval entrou na frente do ataque e...

- Sollarium! – Um enorme corte de chamas derreteu a guilhotina, fazendo até seus aliados ficarem surpresos. – Depois de ter lutado contra o Leviatã, eu notei que precisava de chamas que ardessem ainda mais! Então, eu decidi incorporar o sol nos meus ataques! Esse é o primeiro de muitos que virão!

- Excelente evolução, Perceval. – Disse Arthuria em um tom aprovativo. – Estou orgulhosa de ter você como um dos meus Cavaleiros!


Ele deu uma risadinha contente pelo elogio. E a Rainha, por sua vez, andou até o lado de Krioni.

- K– Merlin, você vai fazer o que com eles? – Indagou a rainha, quase falando seu verdadeiro nome.

- Primeiramente, gostaria de saber o que fizeram com o Gallien. – Falou olhando para Glenn, que havia recuado uns passos de Perceval.

- Como se eu fosse falar onde aquele inútil está. – Respondeu sardonicamente.

- Você irá falar, por bem ou por mal. Se necessário, arrancarei direto de sua mente. – Seu tom indiferente era ameaçador. – Bem, depois que conseguir isso, não sei se os executo pelo atentado a Camelot ou por sequestrarem a princesa e o rei de Lioness, ou se os jogo num calabouço mágico que nunca conseguirão sair. De qualquer forma, você irá me contar onde Gallien está, Glenn. – Ele ergueu a mão na direção da maga. – Power Slave! Diga-me onde está Gallien Lioness!

Um frio mágico subiu pela espinha de Glenn, como se fossem os ventos dos mais frios invernos. Então, diversas marcas roxas subiram em seu rosto e em suas mãos. Segurando o movimento de sua boca, as marcas moveram-na, bem como sua língua, pulmão e cordas vocais:

- Nos calabouços... – Sua voz saiu áspera, de maneira que parecia machucar a garganta. – Os construídos dentro da capital e não no castelo... – Sangue escorreu pelo canto de sua boca, e o feitiço foi desativado.

- Entendi. Obrigado pela cooperação, minha imbecil aprendiz. – Respondeu com um sorriso malicioso.

Zengate imediatamente saiu detrás de Genbu e foi para Glenn, a agarrou e levou para perto de Hanna, que havia se livrado novamente das amarras de sombras e dado um jeito de não se prender novamente, criando uma fina camada de luz que cobria todo o corpo.

- Já te disseram que você é um homem extremamente irritante, Krioni? – Falou Hanna, fazendo Lancelot e Perceval ficarem confusos. – Mas eu ainda sairei vencedora no fim, não importa o que você faça.

- Não se eu a dividir em dois antes. – Disse Arthuria, que pareceu se teleportar para a frente da sua oponente, puxando uma de suas espadas.


O movimento de Arthuria foi circular, e Hanna esquivou no último instante. Mas isso foi o suficiente para arrancar todo o teto do Palácio de Lioness.

- Sua pirralha! – Bradou a mulher de cabelos negros. – Ark!

Uma esfera de luz atingiu Arthuria na barriga, que foi arremessada para onde estava Krioni. O mesmo segurou a rainha, que aterrissou em seu corpo.

- Se vocês atacaram uma rainha, posso considerar que é guerra, não é? – Falou o mago, erguendo a mão para seus oponentes.

- E nós a venceremos. – Disse Hanna com seu tom mesquinho.

E nesse instante, se iniciava a batalha final por Lioness.

Zengate olhava a situação aflito. O mago supremo, Krioni, apareceu ali para impedir que seus planos fossem concretizados. E Zengate não estava nem um pouco afim de que seus planos de anos fossem destruídos desse jeito, principalmente quando estavam tão perto de serem concretizados.

Anos atrás, quando começou seu plano, ainda era apenas uma criança. Junto de seus dois irmãos, vivia em uma vila qualquer de um reino também não importante. Os três tinham vidas comuns, mas conseguiram se destacar com magia. Logo, conseguiram começar a crescer em rankings de exército e viraram Cavaleiros Sagrados, principalmente Zengate e sua magia de linhas. Sua família poderia ter uma boa vida com isso, e isso deixava Torgan e Vincent satisfeitos. Mas não o mais velho dos três. Apenas isso não estava perto de ser suficiente. Ele queria o topo. O topo do topo. Não apenas algo como Capitão de Ordem ou um barão. Ele queria estar no trono. No topo de um reino, comandando todos que estivessem abaixo dele, como se fossem peças de um grande teatro de bonecos.


Quando decidiu começar seu plano, foi para Grisgandor, onde ouvira que o antigo general Ruffus fora eleito como o Primeiro Ministro e comandava o Reino sem Rei. Para tentar a sorte, decidiu ingressar no exército, já que o atual general grisgandoriano, Nier, também era um forasteiro. Porém, esse mesmo general o recusou, sentindo algo de errado com o então jovem Zengate. Isso quebrou seu plano, mas paciente do jeito que era, conseguiu se manter nos eixos e continuar tentando por aí, se tornando um dos Cavaleiros Sagrados errantes, aqueles sem reino para servir, que se vendem como mercenários ocasionalmente. Nenhum reino o aceitava, pois por mais que fosse extremamente paciente para com os outros e também muito poderoso e habilidoso, sua megalomania o impedia de subir nos rankings e se tornar um governante de uma nação militar, pois sempre conseguiam notar isso. Durante esses períodos vagando entre reinos, acabou por achar todos que se tornariam seus companheiros, inclusive seus irmãos que foram expulsos dos reinos que serviam.

Usando sua telepatia concedida por Hanna, ele tentou se comunicar com eles. Sentiu como se uma faca de gelo e fogo simultaneamente rasgasse seu coração. Só havia um motivo para isso: eles foram derrotados.

Nesse momento, Zengate começou a fitar o grande salão no qual se encontravam, procurando exasperadamente alguma maneira de combater os invasores, mas sempre parecia estar sendo puxado contra a parede. Exatamente como sempre aconteceu com ele durante sua vida.

Vagando sem rumo pelas terras da Britânia, ele e seus companheiros acabaram por criar uma pequena ordem mercenária muito poderosa, porém que nunca se fixava em lugar nenhum. Numa de suas andanças acabaram por achar uma clareira onde estava um dos selos dos anjos. Era dito que um selo desses poderia conter um item com um anjo dentro, e essa seria uma espécie superior de Tesouro Sagrado. Porém esse era diferente. Apenas um círculo de pedras negras, onde todas as flores que cresciam ali eram igualmente negras. Sem esperança de acharem algo bom, ouviram uma voz chamar por eles, e sem nada a perder, foram conferir. Tal voz teve que os convencer a ajudá-la, já que as lendas sempre falavam mal de anjos, uma vez que sua vontade de trazer a luz era maior que a de ouvir se as outras espécies queriam sua luz. Ela afirmava ser diferente, e lhes prometeu ajuda caso a ajudassem. Após minutos os convencendo, finalmente a auxiliaram a se libertar de seu selo, ou ao menos enfraquecê-lo para que ela mesma saísse. Seria isso obra do destino? Ou seria ela que os levou até ali? Ou quem sabe ambos? Isso é algo que nunca descobriram, e possivelmente nunca descobririam. Mas algo que descobriram era quem era a anja que ajudaram a libertar: Hanna Quindecim, e segundo ela, uma das mais poderosas anjas que existiram na Guerra Santa, embora ela afirmasse que seus poderes tivessem sido drenados para se libertar. Mas não houve nenhuma dúvida ao verem suas asas, confirmando sua identidade. E desse jeito, ela se juntou àquele grupo de Cavaleiros Sagrados, e prometeu os auxiliar a entrar para um reino com sua magia.


Não muito tempo depois, ocorreu o incidente de Grisgandor, que poucos dias após seu acontecimento resultou na criação da Saligia, que por sua vez, acabaram se fixando no Reino de Lioness. Assim como a recém criada ordem, ele e seus companheiros conseguiram se instalar em Lioness como uma outra ordem errante, com a ajuda de Hanna. Como cada um apresentava uma das sete virtudes sagradas na visão da população, eles acabaram por ficar conhecidos por esse nome, e então, adotaram o nome do livro que as descrevia como o nome de sua ordem. Seus feitos iniciais trouxeram alguns holofotes para eles, e eram tidos como o possível futuro de Lioness e possíveis freios dos pecadores, como os opostos em suas famas eram.

Nesse ponto de ascensão, chegaram a ser presenteados pelos moradores de um bairro próximo aos muros da capital (após ajudarem com seus problemas de criminalidade) com um antigo bar que transformaram em um quartel general para suas operações. Eles então nomearam de Quindecim, em homenagem ao sobrenome de Hanna, que embora ainda não tivesse muitos poderes para os ajudar, ainda poderia servir como uma espécie de oráculo e os guiar em suas missões. Porém, mesmo assim, sua popularidade não era grande como a Saligia. Embora infames, todos conheciam os poderosos cavaleiros condenados por crimes dos sete pecados capitais, que cresciam sua fama através de atos de heroísmo, até chegarem no ponto de serem louvados como heróis após acabarem com um cerco à capital, salvando todos e partindo em outras missões heróicas que faziam sua fama crescer, tudo isso em menos de um ano de sua formação ser completa pelos sete cavaleiros.

Zengate percebeu o erro que cometeu nesse momento: subestimar o poder dos Pecados e, principalmente, de Krioni e de Camelot. Agir com parcimônia no passado e novamente ter menosprezado o Mago do Orgulho estava sendo sua ruína.

Deveria ter acabado com eles quando estavam em crise e não tê-los deixado se reerguer. Preciso achar um jeito de virar a mesa, antes que tudo acabe! Mas como...?

Tal pergunta foi recorrente em sua vida. Como derrotar os seus inimigos opostos polares. Eles de fato nunca foram mais fortes que eles, talvez Zengate ainda estivesse perto deles, mas nenhum deles se comparava a suas contrapartes, nem ele a Nier.

O que sempre restava para a Psychomachia era ser vista como um plano B. Ou C. Muitas vezes um ou dois membros da Saligia eram o suficiente para resolver coisas que batalhões de soldados eram necessários, ou até mesmo esquadrões de Cavaleiros Sagrados, então raramente eram solicitados. Zengate sempre tentava manter os outros pacientes, mas o sentimento da inveja lentamente tomava todos eles – exceto por Vincent que estava satisfeito por estar com seus irmãos, mas era contagiado pelo sentimento de frustração deles e de seus amigos. Esses dias seguiram por semanas... meses... anos. As condecorações da Saligia eram incessantes. De desprezados para amados. Algumas cidades salvas por eles faziam comemorações em seus nomes. As pessoas desenhavam as tatuagens dos Pecados nos seus corpos como forma de homenagem. Ambas as garotas eram tidas como duas das mulheres mais atraentes de toda a Lioness, e muitas vezes, os homens não ficavam para trás. Toda a fama e glória de Pecados rasgava o ego das Virtudes. Por que eles? Por que criminosos e não pessoas justas? Essas perguntas amargavam os dias de todos os presentes no Quindecim.

Até um dia ouvirem um membro da Saligia estar comentando sobre um golpe de estado com um dos coronéis do exército. Se eles conseguissem levar isso a público, a reputação da Saligia seria arruinada! Ao menos, foi o que pensaram. O golpe era simples: A Saligia seria quem comandaria no papel, mas a família real faria isso na realidade. Um plano para acabarem com os estados que ameaçavam Lioness pelo poderio militar que era a Saligia, que agora – após jogarem esse então problema para Gallien lidar quando foi fundada a Saligia, no Conselho dos Reinos Unidos – era discutida e quase exigida uma divisão de seus membros entre sete reinos. Se expusessem isso a população, apenas receberiam respostas como “faz sentido...” e “tomara que dê certo”. Mesmo quando uma luz surgia no fim do túnel, ela logo se apagava. A Psychomachia iria continuar amargando na mediocridade. Até Hanna, que ficava com eles como uma empregada, para não levantar suspeitas, lhes sugerir uma ideia.

A mesma que sempre salvava suas vidas. Sempre tinha uma carta na manga. E dessa vez, contra Krioni e Camelot não era diferente. Ela não deixaria que um simples mago acabasse com seus planos. Ela precisava dar um jeito nas coisas, nem que isso custasse as vidas de todos os membros da Psychomachia. Sua risada abafada ecoou pelo salão até falar suas palavras para os seus oponentes.

- Acham mesmo que isso é o suficiente para nos deter? Não esperei tanto por isso para que vocês acabassem com tudo. Acham mesmo que eu não tinha nenhum plano B?

A mulher estala os dedos e faz aparecer algo que Krioni não via faziam, no mínimo, décadas, e algo que Lancelot, Arthuria e Perceval nunca haviam visto - ao menos não se lembravam de ver.

Uma criatura massiva, com braços longos e grossos. Seu porte em si era largo, com vários músculos se entrelaçando e criando uma aparência assustadora. Sua pele alaranjada com manchas verdes mostrava muito bem como era forte com os músculos saltando por debaixo. Suas pernas eram curtas e grossas. Seus olhos eram amarelos brilhantes com um forte contorno preto ao seu redor.


Eles olhavam com medo e certo receio da criatura que se postava diante deles. Krioni sabia que conseguiria derrotar ele, mas um Demônio Cobre não deveria ser conjurado por Hanna, uma anja. Ela escondia algo, e ele demonstrava receio no que fazer, algo que não combinava com aquele homem tão decidido.

Hanna então usa sua magia para restaurar o vigor dos dois que estavam juntos dela, e entrega um novo livro de magias para Glenn, junto de óculos de rápida leitura.

- Zengate, Glenn, usarei meus poderes para potencializá-los, então não me decepcionem. Completarei o ritual longe daqui. – Falou a mulher.

Krioni se consternava cada vez mais a cada movimento de Hanna. Ninguém move peças aleatoriamente em um jogo de xadrez, sempre há uma estratégia. Ele tinha ciência de que aquele ritual não poderia se completar a distância. A não ser que...

O mago tenta disparar em direção ao círculo mágico que estava desenhado com o sangue no chão. Ele desvia usando sua magia do soco do demônio, porém é arremessado por um chute de Zengate, que estava extremamente mais rápido pela magia de Hanna.

Ele ordena que os seus companheiros também vão atrás dela, mas uma magia branca, de luz solidificada, arremessa os três para longe.

- Agora... Adeus. – Disse dando as costas para a batalha e indo em direção ao círculo mágico de antes.

Hanna se teleporta para longe, e pelo calor da batalha, Krioni não poderia se concentrar para encontrá-la. E além de se teleportar, ainda leva o círculo com ela. Ele cometeu apenas um erro nessa batalha: acreditar que o círculo estava incompleto, e isso poderia custar toda a Britânia.

Seu plano era extremamente improvisado e eficaz, como o que fez sete anos atrás com poucas informações disponíveis, mas tendo sagacidade e astúcia para rapidamente ligar alguns pontos.

- Por que não fazem um golpe dentro desse golpe e culpam a Saligia? – Disse no Quindecim, fazendo todos olharem para ela. – O rumor do golpe é real e corre como água pelas ruas, faria sentido eles fazerem isso, afinal poderiam usar o rumor do pacifismo para fazer um de verdade sem problemas...

- E isso não levantaria suspeitas até que fosse realizado... – Comentou Jaeger, o mais experiente deles.

- E por serem criminosos, eles logo seriam culpados socialmente! – Exclamou Kyara sentada num dos sofás do Quindecin.

- Então está decidido. – Disse Zengate, tomando a liderança. – Nós daremos um golpe em seu golpe. Nós somos as virtudes, a oposição dos pecados. Nós seremos considerados enviados dos céus para punir os pecadores! – Falou veementemente, tomando pela vontade de cumprir seu sonho e fazer Nier pagar por recusá-lo em Grisgandor, onde seu plano teria funcionado sete anos atrás.

- Se Hanna puder nos ajudar com suas asas, será ainda mais convincente! – Falou Vincent animado.

- Faria isso, não é Hanna? – Perguntou Vanalya preocupada.

- Claro. Com isso, dominaremos esse reino. – Falou com um sorriso no rosto. – Finalmente terão o que sempre quiseram.

- E o que fará com Krioni? – Questionou Torgan. – Ele com certeza entenderá esse plano e acabará com ele antes de começar, se fizermos algo errado...

- Não se preocupe, ele estará tratando os termos oficiais na sua torre e eu sumirei com ele. O teleportarei para bem longe – Falou Glenn com um sorriso no rosto.

- No fim, a paciência nos trouxe um momento perfeito. Faremos tudo da maneira mais perfeita de todas. É hora de planejarmos! – Exclamou Zengate, empolgado por finalmente poder subir os degraus para o topo.

E assim se seguiu os próximos dias da Psychomachia, planejando milimetricamente seu golpe e como fariam para o cumprir, colocando todas as peças nos lugares onde deveriam, explorando e criando rotas para cumprir o plano. Zengate fez de tudo para explorar o castelo, Vanalya e Kyara procuravam por guardas e cavaleiros que odiavam a Saligia, Torgan e Vincent ajudavam a espalhar ainda mais o boato do golpe de estado entre a população, Jaeger ajudando Hanna com os preparativos no Quindecim e Glenn usando tudo o que seu mestre tinha para poder o trair. E o jeito que acharam para o plano funcionar perfeitamente seria com o derramamento de sangue. Quando completaram sua montagem, ele consistia em pequenas grandes fases: entrar no Palácio, chegar até onde estava o alvo, eliminá-lo, sair rapidamente e voltar para ir atrás de quem supostamente atentou, a Saligia. Com tudo em mãos para o fazer, tiveram apenas que esperar o momento exato para o pôr em prática.

E no exato momento que Hanna saiu do lugar, Krioni sentiu algo que não sentia há tempos: medo. Claro, ela era mais fraca que ele e possivelmente que seus amigos, e não conseguiria derrotar qualquer um deles. Mas onde ela estava?

Também sem entender o que fazer, os cavaleiros olham para o mago esperando alguma resposta sobre como prosseguir, e após alguns poucos segundos de pensamento, ele passa a bradar ordens.

- Arthuria, Perceval! Vão os dois atrás dela! Vocês são os melhores detectores de magia depois de mim, então devem conseguir achar algum rastro do poder dela! E Lancelot, você fique comigo! Nós dois iremos derrotar eles!

- Entendido! – Todos responderam em uníssono. Embora Arthuria fosse a Rainha, em momentos como esse, Krioni era quem tomava as rédeas da situação. E como lhes foi ordenado, Arthuria e Perceval pularam da torre e usaram a magia do Cavaleiro de Fogo para conseguir descer com segurança.

- Você fala como se conseguisse dar conta de nós, Krioni! – Zengate apareceu em sua frente, com sua espada em mãos, enquanto Glenn circundava o seu aliado e seus dois oponentes. – Não se esqueça que nós o derrotamos dez anos atrás, e derrotaremos hoje de novo do mesmo jeito! Com estratégia!


Na noite do suposto golpe, um pouco após as onze horas da noite, Gallien foi exilado após fugir por causa da tomada do reino pelos pecados. Ao menos era isso que as cartas oficiais diziam, pois ele saiu a essa hora pela porta da frente do Palácio, acompanhado por Nier, e conversavam sobre algum assunto que os outros não conseguiam ouvir, mas possivelmente era sobre o que o planejavam fazer dali pra frente, já que o garoto seria coroado o novo rei de Lioness. Quando Gallien entrou na carruagem que o levaria dali, Nier se virou e voltou para dentro do palácio. Possivelmente iria brincar com Camille, já que por algum motivo, se dava bem com a pequena princesa e vice versa. O resto da Saligia, por sua vez, estava passeando pelo castelo, e apenas Krioni estava em sua torre fazendo os papéis dos termos de rendição de Gallien e um meio plausível para ele e sua família continuarem como chefes de estado, enquanto a Saligia detinha a palavra final.

Em um grande geral, a maioria da população apoiava a Saligia e gostava dos Cavaleiros Condenados. Mas assim como a Psychomachia, naturalmente haviam pessoas que odiavam a Saligia, inclusive dentro do exército de Lioness. E foi com tais pessoas que as sete figuras se esgueiraram para dentro do Palácio, com um objetivo em mente: fazer um golpe de estado dentro de um golpe de estado. Devido aos estudos, sabiam que precisavam ser cautelosos com suas magias de parar o tempo e criar ilusões, afinal Krioni colocou diversos canceladores de magias de vários níveis. Com a ajuda de Glenn, a aprendiz do mago que criou todas essas seguranças e era, principalmente, companheira leal deles, eles eram capazes de escapar dos cancelamentos mágicos por tempo o suficiente para passar pelos guardas até chegar em seu objetivo.

Objetivo esse que era simples: matar a rainha. E Zengate possuía uma memória eidética quase perfeita devido ao seu objetivo, então conseguiu memorizar um caminho até o quarto do rei e da rainha, numa torre central no Palácio. Passando pelas sombras, cantos, tempos parados, ilusões e alguns conspiracionistas, que foram escalados por falsificações de documentos para a patrulha, chegaram à porta do lugar. Todos paralisaram na frente da porta em arco. Era finalmente a hora de dar o golpe. Nesse momento, exceto por Zengate, todos se questionaram se aquilo era realmente o certo a se fazer. Mas mesmo assim, ele também suava frio. Era hora de tomar Lioness. Glenn se concentrou e conseguiu quebrar a magia de proteção da porta para, então, seu capitão agir. Ele estendeu sua mão até a fria maçaneta e quando a tocou, pareceu que uma descarga elétrica correu pelo seu braço, de tamanho nervosismo.

A abrindo, uma coisa estava fora do plano. A rainha Rose Lioness estava com seu pequeno filho, Tristan. Quando a Psychomachia teve tal visão, sentiram seus corpos congelarem. Isso estava errado. Matar uma criança também? Mas para Zengate, era hora de chegar no topo. Degelando o seu corpo, ele partiu em direção aos dois, e antes que pudessem notar, foram atravessados por uma espada qualquer que havia pego para fazer isso e amarrados com fios mágicos, do mesmo tipo que Krioni usava para impedir as pessoas de cometerem crimes na cidade. Horrorizados, Glenn usou uma magia de aporte para levá-los dali de volta ao Quindecim.

Quando retornaram, estarrecidos pelo que fizeram, se jogaram nos sofás esperando serem chamados pelos guardas. Afinal, algo imperdoável foi feito. Mataram a rainha de Lioness para dar um golpe de estado. E se tudo desse certo... A Saligia seria culpada.

Krioni então dispara para o lado, atraindo a atenção de Glenn e Zengate, disparando setas mágicas para atraí-los, enquanto o demônio cobre parte desenfreadamente para cima de Lancelot que partia para a esquerda.

Devido aos seus estudos, Lancelot sabia que demônios cobre são a mais alta classe de demônios comuns, apenas estando abaixo das unidades Albion e demônios de elite.

A besta-fera dispara em direção ao cavaleiro mágico de Arthuria, que esquiva do golpe com maestria, porém, enquanto estava no meio de sua esquiva, um soco cruzado da criatura o acerta pela direita. Ele amortece o impacto do golpe com um escudo mágico conjurado de última hora, mas ainda assim é arremessado para longe.


Agora no salão, haviam apenas Krioni, Glenn e Zengate, além dos desacordados Nier e Camille. Após conseguir se esquivar por completo e deixar a luta como ele queria, ele resolveu responder seus agressores.

- Você fala como se isso não tivesse passado de um golpe de sorte. – Seu tom arrogante tirava os dois do sério, como fazia há mais de dez anos. – Além do mais, se tivessem me derrotado, eu não estaria aqui hoje! E nenhum de meus amigos estaria correndo para cá acabar com essa merda, como devíamos ter feito naquela noite!

E também correndo para o quarto da rainha, todos os membros da Saligia se encontravam no caminho dos corredores do Palácio, assustados com o sinal que Krioni emitiu. Algo estava errado. Chegando, todos viram a cena de Rose com um buraco no seu peito, juntamente do pequeno Tristan, amarrados por fios no teto.

- Alguém deu um golpe de estado no nosso golpe. E fizeram tudo para nos incriminar. Parece até que sabem da magia de sinal do coração dela, para nos fazer ser os primeiros aqui. Em breve estaremos cercados de Cavaleiros Sagrados e guardas, possivelmente traidores já estão nos denunciando. – Krioni estava impassível com a cena. Ele estava mais calmo do que deveria estar, possivelmente com sua cabeça maquinando quem seriam os traidores.

- Mas por que o pequeno Tristan? – Lilian perguntou olhando a cena, com os olhos cheios de lágrimas. – Ele era só uma criancinha, porra! O que ele tem a ver com isso, cacete!? – Ela estava inconsolável ao ver isso e pensar na dor de Gallien e Camille, já que sabia muito bem como era perder a família.

- Lugar errado na hora errada... – Respondeu Takashi. Suas mãos eram encharcadas de sangue, então conseguia manter a calma, mas ainda assim isso mexia com ele. Afinal, nunca conseguiu superar a imagem de crianças morrendo em seu passado.

- O que faremos, Krioni? – Nier perguntou com uma expressão preocupada.

- Por hora, manteremos a posição até os ânimos acalmarem. Então encontraremos quem foi o filho da puta responsável por isso. Mas para conseguir desfazer minha magia, já tenho um grande suspeito em mente.

- Que seria? – Asura perguntou enquanto pensava se usava sua magia para limpar o sangue do lugar.

- A Psychomachia. Minha aprendiz imbecil está lá. Se ela for a culpada, ela entenderá porque eu sou um membro dos Cavaleiros Condenados.~

Skanfy e Gwyndolin olhavam por trás dos outros, e sentiram uma coisa pequena passar por eles. Uma criança de uns sete anos. A princesa Camille.

- Ma... mãe? – A garotinha entrou em choque quando viu tal cena. Seu corpo enrijeceu no mesmo momento que seus olhos se encheram de lágrimas. A cor de sua pele já clara sumiu, a deixando branca como um fantasma.

- Camille! – Exclamou Nier, indo rapidamente para frente dela. – Você deveria estar dormindo! – Ele se abaixou e abraçou a garotinha, que chorava aos prantos.

- Certo, eu vou apagar a mente dela e então veremos o que fazer. – Disse Krioni, agora tenso com a situação. A Saligia não interagia muito com ela, exceto por Nier que tinha uma afinidade maior, mas mesmo assim não passava tanto tempo perto dela.

Quando ele se abaixou para usar uma magia para apagar a mente dela, uma armadilha mágica disparou contra ele. A magia de Krioni foi atrapalhada, e acabou por apagar muito mais do que devia. Logo, outra magia se iniciou. Uma com círculos, para o teleportar para longe dali.

Ele tentou desfazer ela, desmontando seus núcleos mágicos, mas sem sucesso.

- Quando foi que essa vadia roubou minhas defesas de magia?! – Ele gritou desesperado, como poucas vezes fez em sua vida. – Que seja, estamos sem tempo! Não morram seus idiotas! Teleport!

E assim ele disparou uma magia ainda com resquícios da anterior, apagando um pouco da mente dos seus companheiros, mas fazendo todos se dispersarem por Lioness, enquanto o mago sumia da sala, deixando apenas os cadáveres junto da pequena Camille.

Do lugar onde Lancelot havia sido lançado, que agora não passava de uma pilha de escombros, uma leve cortina de fumaça subiu, bloqueando um pouco a visão do rapaz. O mesmo se encontrava agachado com apenas um de seus joelhos elevado, já o outro, era usado para apoiar Yobikuri em sua Quinta Forma de Invocação, a chamada Espinhos de Gembu.

- Esse golpe... Nunca imaginei que algo tão poderoso assim pudesse existir! - pensou o Samurai, com uma leve expressão de surpresa em seu rosto.

Passado o momento de surpresa, Lancelot levantou-se, e logo percebeu algumas lâminas conjuradas por Zengate caindo de seu escudo.

- Ainda temos um cavaleiro dando suporte! - exclamou o de cabelos negros, voltando-se na direção do rapaz que Krioni ajudara anteriormente - Seria um incômodo ter que lutar contra os dois, não acha?

Interrompendo sua fala, o rugido do Demônio de Cobre ecoou pelo local, atraindo a atenção de Lancelot. Em questão de segundos, a criatura já estava diante do cavaleiro, pronto para acertá-lo com um poderoso golpe.

O berro proferido pelo tal monstro fora seu erro, se não fosse por isso, Lancelot teria sido atingido desprevenido mais uma vez. Círculos esverdeados com símbolos surgiram ao redor do rapaz, fazendo com que o mesmo fosse impulsionado para acima da cabeça do Demônio, que por sua vez, disparou mais uma sequência de golpes em seu adversário.


Vendo que seu adversário estava inacessível para ataques corpo-a-corpo, a criatura disparou diversos raios negros, invocados a partir da palma de sua mão, em direção ao cavaleiro.

Como reação, Lancelot segurou Yokiburi em frente ao seu corpo, e dos espinhos em seu escudo, surgiu uma cabeça de cobra. A nova invocação lançou-se contra os raios, interceptando todos, o que causou seu desaparecimento após cumprir seu dever.

- Maldição... Você é bastante resistente, Demônio!!! - esbravejou. E no mesmo segundo, mais um ataque da criatura surgiu em meio à fumaça: um poderoso soco que pegara Lancelot desprevenido. Com o impacto, foi lançado contra uma coluna de pedra, que se partiu, fazendo com que o Samurai despencasse do lugar em que a luta ocorria

Pouco antes de espatifar-se em pleno solo, o Samurai invocou uma pequena rajada de vento, o que serviu para amortecer sua queda. Ao olhar para o Demônio, o viu com uma das mãos completamente perfurada pelos Espinhos de Gembu. Muito provavelmente, aquele membro não poderia mais ser usado para realizar ataques, o que deixava Lancelot com uma certa vantagem.

Já de pé, o cavaleiro sentiu o chão tremer abaixo de seus pés, efeito causado pela aterrissagem nada discreta de seu inimigo. Sua arma retornou para a forma da Lança de Cabo Verde, e com uma lâmina curvada de três pontas.

- Esta luta já está me irritando! - murmurou Lancelot. E naquele momento, decidiu fazer algo que, por muitos, seria considerado burrice: guardou a lança em suas costas e se jogou de mãos nuas contra o Demônio - Por sorte, Perceval e Arthuria já estão longe... A falta de responsabilidade daquele rapaz me irrita profundamente.

Por seu alvo estar mais próximo de sua mão arrebentada, o Demônio viu-se obrigado a atacá-lo diretamente com seu enorme corpo, levando seu ombro contra o rosto de Lancelot. Por sua vez, o cavaleiro não tentou atacar ou se defender, assim como fizera na luta contra Glenn, o que o deixou vulnerável ao golpe da criatura.


- Mas, graças a isso, eu posso lutar livremente!!!

O Demônio não hesitou em finalizar a luta com um único golpe. Ao colidir com seu corpo contra Lancelot, um enorme tufão formou-se no local, jogando o tal objeto para longe... Na mesma direção onde surgiu uma voz. Tendo seu antigo braço bom atravessado por uma lâmina de vento, o monstro apenas pôde escutar o discurso de seu oponente:

- As informações que obtive sobre sua raça vêm dos livros que li e de antigas histórias que me foram passadas. Ao lutar com você, pude ter certeza de uma coisa! Sua regeneração é tão boa quanto dizem! Veja só, sua mão já está intacta, mesmo depois de ter sido atingida pelos Espinhos de Gembu! Mesmo assim, nada disso foi o suficiente... - a voz do cavaleiro surgia das sombras, no mesmo lugar em que havia sido jogado da primeira vez. Em seu rosto, um leve sorriso. Parecia excitado pelo calor e pela emoção que sentia em meio ao caos que se formava na capital de Lioness.

Mesmo com certa desvantagem, graças ao tamanho colossal de seu inimigo, Lancelot permaneceu firme. Já não se importava mais em sair (ou não) vivo daquela luta... Tudo que lhe importava, naquele momento, era derrotar seu adversário.

- Eu não vou te matar, sabe? Afinal, quero ter o máximo de conhecimento sobre vocês... Logo, quando outro surgir, eu já saberei o que tenho que fazer!

Usando sua Kakusareta, Lancelot ocultou sua presença, e sem seguida, enviou um clone de vento na direção do Demônio, a fim de medir a força da criatura com aquilo. Enquanto sua cópia se aproximava de seu adversário, o verdadeiro se recuperou de seus ferimentos ao ingerir um elixir oferecido por Sayuki.

- Obrigado, Sayuki... Se não fosse por você, eu não poderia finalizar esse combate! Eu lhe invoco, 23º Contrato de Invocação: Gothis!!! - exclamou. Em meio às explosões causadas pela luta entre o Demônio e o clone de Lancelot, o verdadeiro encarava o pequeno exército de bárbaros que acabara de invocar. Os homens espumavam de raiva, querendo dar um fim à vida daquele que os trouxera para aquela batalha. Lancelot teria que pensar rápido, ou caso contrário, seria morto naquele local.


Imediatamente, lembrou-se de algo bem particular dos Godos: aquelas bestas selvagens de forma humanoide atacavam tudo e todos, exceto seu líder. E naquele momento, não existia um.

- Muito bem, homens! Aquele inimigo deve experimentar a fúria de suas lâminas! ATAQUEM!!! - ordenou Lancelot, e logo viu os bárbaros entrando em êxtase por estarem prestes a entrar em batalha

Quando começou a se sentir aliviado, viu a lâmina de um machado passar poucos centímetros ao lado de seu capuz, e logo em seguida, ficar cravada na parede atrás de si. Os bárbaros, de fato, estavam em êxtase para atacar seu inimigo, no caso, o próprio Lancelot. Do outro lado do campo de batalha, o Demônio parecia já estar se livrando da lâmina de vento.

- De novo com isso?! - perguntou Lancelot, indignado por seu plano ter fracassado - Já tivemos essa conversa antes! Eu derrotei Ostrogoda em uma batalha justa, e por isso, vocês devem ser meus subordinados! - enquanto falava, o cavaleiro precisava se afastar dos primeiros bárbaros que partiam para atacá-lo. Ele precisava agir rápido, afinal, alguns de seus “aliados” já estavam sendo mortos pelo Demônio - Tenho que agir rápido! Lutar em lugares apertados não é favorável para os Godos...!

Ainda acompanhado pelos bárbaros, Lancelot girou seu corpo, moveu suas mãos, e com sua magia de vento, prendeu aquele pequeno exército em meio a uma barreira de vento, e por fim, avançou voando na direção do Demônio.

Com energia concentrada em seus punhos, Lancelot se aproximou da criatura. Para seu azar, a mesma conseguiu prever seus movimentos, e não parecia tão preocupada assim.

- KAZE NO TE!!! - um enorme impacto atingiu o peito do Demônio, o lançando para longe, logo colidindo contra uma parede de pedra. Sabendo que aquilo não era o bastante para detê-lo, a criatura sorriu - Está cantando vitória tão cedo?! Pois bem, é agora que vem o real impacto!!! - mais uma vez, uma rajada acertou o peito do Demônio, mas dessa vez, o ataque fora forte o bastante para perfurar a criatura e lançá-la para fora do castelo

Antes de libertar seu exército, Lancelot sacou Yobikuri de suas costas e tratou de mudar sua forma. Agora, a antiga lança havia tomado a forma de um arco avermelhado, com um par de chifres de bode com ouro fazendo duas pontas na empunhadura. Só depois da mudança, os bárbaros foram libertados... Porém, diferente de antes, nenhum deles se movera para atacar seu invocador.

- Como eu já lhes disse, eu venci o líder de vocês, e isso lhes faz serem meus subordinados! Essa é a Vigésima Forma da Yobikuri, e vocês a reconhecem bem, não?! Este é o Arco de Ostrogoda, seu atual líder! - diante do discurso de Lancelot, os bárbaros urraram em um tom afirmativo, como deveria ter sido desde o começo. Aproveitando a empolgação de seus subordinados, o cavaleiro sacou três flechas e lançou-as na direção do buraco criado pelo Demônio. Um caminho luminoso surgiu, indicando o local de seu adversário para os bárbaros. Era assim que o Rei Ostrogoda os comandava tão bem.

Em frenesi, os bárbaros seguiram o caminho indicado por seu novo líder, sedentos de sangue e prontos para acabar com o tal Demônio. De longe, Lancelot observava o combate, ou melhor, o massacre provocado por seus novos subordinados.

- Malditos!!! - exclamou o Demônio, algo que deixou Lancelot perplexo por alguns segundos. Ele não esperava que um ser dito como irracional fosse capaz de falar - EU VOU MATAR CADA UM DE VOCÊS!!!


Primeiramente, os Godos atacaram o ferimento do Demônio antes que este se regenerasse, e com isso, o deixaram de joelhos. Sem outra saída plausível, a criatura tentou devorar os espíritos de seus adversários, apenas para falhar miseravelmente... Aqueles seres não possuíam mais almas, eram apenas reflexos de uma vida passada, trazidos de volta para cumprirem as ordens de seu líder. E mesmo tentando estraçalhar seus corpos, tudo que a fera conseguia fazer era atrasar o ataque em poucos segundos, já que os homens logo se regeneravam dos ferimentos.

Aproveitando a distração causada pelos bárbaros, Lancelot usou sua magia de vento para manter-se voando enquanto tentava encontrar seus companheiros: Arthuria e Perceval, mas mesmo assim, não conseguiu achá-los. De repente, sentiu algumas fontes de Poder Mágico se aproximarem, e por um momento, chegou a ficar em dúvida se eram inimigos ou aliados, porém, resolveu ignorar.

- Não tenho rancor de você, criatura, e muito menos, pena... Entretanto, você é poderoso demais para ser desperdiçado assim! - quase que como mágica, um pergaminho surgiu nas mãos de Lancelot, e junto a isso, parte do sangue do Demônio correu para o papel, formando símbolos que, aparentemente, formavam alguma língua desconhecida - Você se tornará meu subordinado, Demônio! E seguirá minhas ordens sem questioná-las!

- Nunca, humano...! - murmurou a criatura, ainda fraca e tentando se livrar dos bárbaros


- Sua opinião não me interessa! Esta é sua única opção... - a lança de Lancelot retornou a sua forma original, e com um golpe certeiro, abriu um imenso corte no pescoço da criatura, e em seguida, o partiu ao meio. Mais uma vez, o sangue correu para o papel, registrando palavras que, dessa vez, eram compreensíveis para os demais: Demônio Bronze, nº 301

E assim, o Demônio desapareceu do campo de batalha em uma espécie de fumaça esverdeada, da mesma forma que os bárbaros. Livre de problemas, Lancelot decidiu que era hora de verificar quem eram os donos daquelas tais fontes de Poderes Mágicos que sentira havia pouco tempo.

- Bem, agora que esta luta já se encerrou, eu devo descobrir de onde vêm esses poderes, e se são de amigos ou inimigos. Eu prometi para a rainha que daria suporte ao Merlin, e é isso que vou fazer.

Usando sua magia de vento para atingir uma maior velocidade, Lancelot partiu na direção da entrada do castelo, indo de encontro àqueles cinco novos seres.

Com Lancelot saindo do caminho, Krioni ficou sozinho com as duas Virtudes restantes, exatamente como queria. Possivelmente não conseguiria derrotar os dois sozinho com seu estado atual de manipulação do tempo e não podendo destruir a Capital de Lioness no processo.

Porém, com certeza não faria aquilo sozinho. Não passava de uma questão de tempo para Nier acordar. E tempo, para Krioni, nada mais era que algo que estava completamente sob seu controle.

- Pelo que posso ver da situação de Nier, vocês têm no máximo uns dez minutos para me derrotar. Cinco, se ele continuar se recuperando nesse ritmo. E então? Acham que conseguem ou vão desistir? – Seu tom debochado continuava a fazer os dois se irritarem, aparentemente nunca se acostumariam com isso.

- Glenn, me dê suporte. Em magia ele nos vence com certeza, então nos resta apenas combate corpo a corpo. E eu o venço nisso.

Glenn se sentiu com um aperto no peito. Ela não podia vencer seu mestre, ele era poderoso demais para ela. E também sentia que mesmo Zengate, seu poderoso capitão e companheiro valioso, não o venceria.

- Zengate... – Ela o encarou com seus olhos rosas, como se fosse a última vez que fosse vê-lo – e seria se ele não fosse cauteloso –. – Cuidado.


- Pode deixar. – Ele respondeu, desembainhando sua espada.

- Star Mantle. – Disse a maga estendendo a mão para seu amigo, o envolvendo com uma magia de potencialização mais forte do que a que colocou seus companheiros, o fazendo brilhar como se fosse envolto por um arco-íris.

- Acabaram com essa conversinha? Já estava me dando sono... – Zombou de seus inimigos.

- Eu te derrotarei aqui e agora, Krioni! – Berrou Zengate, disparando para cima dele.

Vendo que ele precisaria de suporte, Glenn disparou setas mágicas pelas suas costas, e pela velocidade aumentada do seu Star Mantle, o Capitão das Virtudes conseguiu desviar de cada uma delas, fazendo com que passassem para atingir Krioni.

No momento que ele desviou, as setas chegaram próximo a Krioni, que criou um escudo mágico que barrou todas as setas. Porém, do seu outro flanco, Zengate surgiu erguendo sua espada. Quando estava prestes a atingir o seu inimigo, ele estalou os dedos e uma explosão de magia se deu em seu peito, o arremessando para longe.

- Se esse é o melhor que podem fazer, os matarei antes que Nier acorde.


Suas palavras ecoaram pelo salão, fazendo ambos franzirem o cenho. Ele estava em um nível diferente do deles. Sua força era inigualável, e não era atoa que ele era tido como o membro mais forte da Saligia.

O Pecado do Orgulho ergueu sua mão esquerda e fez um círculo no ar, criando uma massa de energia mágica condensada. Ele então passou a mesma mão no meio, fazendo ela virar um círculo mágico, e com a mão direita encostou as pontas dos dedos no meio. Tal círculo mágico era composto por doze números, como um relógio.

- Chrono Obliteration!


Um poderoso raio de sua magia do tempo foi disparado em direção a Glenn, que ergueu uma enorme e espessa barreira mágica para o parar. Krioni então abriu a mão, e encostou a palma no centro do círculo. O poder mais que decuplicou, estraçalhando a barreira e fazendo com que a maga tivesse que ser salva no último instante por Zengate.

- Você está bem? – Perguntou a Virtude da Paciência.

- S-Sim... – Ela respondeu, vendo o rombo na parede do castelo, que foi obliterada junto de parte do teto.

Agora, a luz do dia enchia o lugar. E o Mago do Tempo foi para o buraco, observar a cidade. Embora não pudessem ver seu rosto, conseguiam sentir a preocupação vinda de sua alma.

Vendo essa cena, Zengate disparou na direção do mago, que sentiu a aproximação e esquivou, e usando uma magia de impacto, o empurrou para fora do castelo. Ele se prendeu com sua magia de fios, e quando Krioni ia cortar, Glenn acertou uma esfera de magia branca em suas costas, que o atingiu como se fosse um soco.

- Nada mal, atingiram um golpe! – Falou após o impacto, se virando de lado para Glenn.


- E você não deveria ficar olhando para fora da batalha quando estamos aqui ainda! – Falou Zengate subindo com os fios, atraindo um olhar de canto de olho de Krioni. – Mind Devour!

Zengate usou seu Mind Devour, uma Habilidade Mágica que afetava a mente e espírito de seus oponentes. Krioni possuía uma mente e espírito fortes, mas quando Hanna desapareceu levando o círculo mágico e ajudou Zengate, ele teve que enviar sua aprendiz e protegida Arthuria atrás dela, levando a batalha para outro rumo, fazendo seu espírito minimamente balançar e sua mente tremer, o suficiente para Zengate invadir sua cabeça.

O motivo pelo qual Zengate é tão temido, é que ele aproveita essas brechas para poder subjugar seus oponentes. Krioni sentiu uma dor estridente correndo por todo seu corpo. Não era uma dor física, mas mental, que chegava a afetar até o mais poderoso dos magos.

Aproveitando esse momento em que Krioni estava imobilizado, Zengate usou seus fios mágicos amarrando Krioni, e Glenn logo em seguida selou os seus poderes mágicos.

- Devo admitir que você é o oponente mais terrível que já enfrentei. Mas não tenha espírito algum nesse mundo que eu não possa subjugar! – Gritou mais para si, para se afirmar como o mais poderoso do duelo.

Zengate acertou Krioni na cabeça, o incapacitando.

- Certo, hora de acabar com os outros.– Falou bufando, cansado do combate.

Glenn se levantou de onde estava e bateu o pó de suas roupas, abrindo um sorriso aliviado no rosto. Finalmente havia conseguido superar seu mestre. Suspirando como se tirasse um peso enorme das costas, se levantou e foi até Zengate, onde viu ele apagado e amarrado nos fios.

Usando sua magia de terra, Glenn prendeu Krioni sobre um pedaço de rocha, deixando-o completamente imobilizado, e com uma amplificação mágica, a tornou muito mais resistente. Com a derrota de Krioni, Zengate com certeza iria conseguir derrotar os outros pecados. E os únicos que eram uma ameaça para ele, estavam desacordados.


De repente, antes de Zengate sair, ambos sentiram uma energia enorme transbordando por perto. Uma aura escura e medonha, que trazia um miasma terrível, estava contaminando a sala. Essa aura estava vindo do corpo de Nier, que ainda estava desacordado. Ambos, Zengate e Glenn, começaram a suar frio.

Fora isso, outro ponto de magia transbordava, enchendo a sala com seu poder. Com um estalo, as rochas que prendiam Krioni se quebraram e ele não estava mais ali. Engolindo em seco, os dois olharam aflitos procurando para onde ele havia ido, mas a única coisa que acharam foi sua risada, repleta de sarcasmo e malícia, enchendo o local.

- Eu sinceramente não achei que eu teria que usar mais do que dez por cento do meu poder com vocês, parabéns, vocês conseguiram me deixar extremamente zangado! – Sua fala atropelada havia voltado, sinal de que sua paciência havia sumido.


O mago apareceu por entre um redemoinho em meio a Zengate e Glenn. O medo se espalhava ainda mais por eles, o medo do demônio que estava a despertar e o medo pelo que teriam que enfrentar agora. O poder mágico de Krioni era esmagador, ao ponto de rachar as paredes e o chão do lugar, e o que era uma aura gentil e calma, apesar de agressiva, acabara por se tornar algo carregado de raiva e ameaça.

- Espero que entendam que vocês não são fracos, longe disso. – Ele fitou os dois, chocados. – Eu é que sou forte demais.

Ambos tentaram o atacar, mas receberam explosões mágicas em seus rostos que os arremessaram para longe dele.

- Seus tolos, eu sou Krioni, o mago que transcendeu os limites da mortalidade e do que um dia podia se chamar de humano. – Seu olhar era ameaçador, e o olho rúnico estava ainda mais ameaçador que antes. – O mago que conheceram há pouco não existe mais para vocês, de agora e para sempre eu sou אדון טריסקאל!


Aquele nome pronunciado pelo mago não era estranho para Glenn. Ela já havia o lido em seus estudos após a tomada do reino, invadindo a biblioteca de seu antigo mestre. Apesar de estar em uma língua antiga, conseguiu o memorizar pela sua importância. Aquele nome era de algo que ela achava ser apenas uma lenda dos tempos da Guerra Santa, três mil anos atrás. Porém, o que ela não acreditava era que aquele que possuía esse nome era seu mestre. Mas analisando friamente, faria sentido por ele ser tão velho e ter tal aparência, e poder usar magia da mais alta casta, a magia do tempo sem nenhum dos cânticos que duram uma página. Aquele nome era o nome daquele que era a Encarnação do Tempo. Ela poderia jurar que era uma lenda, mas sendo lenda ou não, ele estava na sua frente. Krioni, o Tempo estava diante sua presença. Um dos mais poderosos homens do mundo dos tempos antigos, um dos responsáveis pelo fim da Guerra Santa a encarava de cima para baixo, como se ela fosse apenas uma formiga no campo de batalha.


Antes que pudesse avisar Zengate para fugirem, uma lufada de magia negra atingiu ambos como se a gravidade tivesse aumentado em cem vezes. Ao olhar para o lado, viram que as sombras do lugar pareciam abraçar aquele garoto desacordado. Sua magia transbordava enchia o lugar, fazendo com que Krioni andasse calmamente ao seu encontro, embora pudessem sentir que até ele se sentia ameaçado por aquilo, pela cautela em seus passos.

Não, não é minha culpa...





















Mas sim... com certeza é...





















Mas ele que foi culpado!





















Só que eu perdi a cabeça. Mostrei a ela quem realmente sou.





















Mostramos, ninguém quis me impedir. Fingiram que queriam, mas no fundo o que queriam era o destroçar.





















Malditos nobres! O único que presta é o Rei Gallien e sua família.





















Aquela que não consegui proteger. Mas que merda!





















Por que sinto que não é a primeira vez que isso acontece?










Um estampido corta seu monólogo auto depreciativo de negação como uma faca recém amolada corta a carne.

Nier abre os olhos e cores começam a preenchê-los. Um imenso céu, infinito até e além de onde seus olhos alcançam, enche sua vista. Ele é refletido no chão, que parecia um longo e límpido espelho, que seguia além do limite do horizonte.


Sentado em uma cadeira, ele nota que estava sozinho nesse lugar. A imensidão era vazia, não havia nada além do branco das nuvens e o azul do céu. Nem um sol era visível, por mais que sentisse que era meio-dia por não ver sua sombra projetada para os lados.

-Onde eu estou agora? – Pensou em voz alta.

Ele olha para baixo e enxerga seu reflexo. Mas não era ele. Não exatamente ele, mas ainda era ele. Se via mais velho, provavelmente com 30 anos. Estava com uma expressão calma. Não, triste. O mesmo que o seu eu atual sentia.


- Isso não... Será que...?

Nier analisa novamente o lugar que estava. Só havia uma resposta: estava novamente no seu mundo dos sonhos.

Ele olha novamente para baixo, encarando seu reflexo. Ele o encarava de volta, obviamente. Seu rosto estava mais maduro, com certeza. Seu corpo parecia mais forte que o atual. Ele gostaria que esse fosse realmente seu futuro. Além de se perguntar se ser um demônio o fazia não envelhecer como os outros, e por isso já não ser assim. Então, subitamente, o reflexo o agarra e o puxa para baixo, atravessando a película espelhada.

O pecado estava despencando num céu infinito, cada vez mais rápido. O vento era forte, ao ponto de mal conseguir abrir os olhos ou sequer se mexer pela pressão que ele causava.

E novamente, sem mais nem menos, ele atinge um chão, num impacto seco, porém sem se machucar. Quando abre os olhos, está em um lugar vazio, preto e sem luz. Apenas sabia que estava no chão pois pôde o sentir, já que era tão preto quanto todo o resto.
Desorientado pela falta referências visuais, ele se virou para trás e viu seu eu mais velho, porém agora com aparentes sessenta anos sentado em uma cadeira, com outra de frente para ele, uns 3 metros de distância, em um único holofote de luz, que não escapava do cone luminoso que se formava, quase como se fosse um sólido. Ele se aproximou e se sentou na cadeira, encarando seu "clone".

-E então? Já sabe quem é o culpado? – Sua voz rouca e carregada o perguntou.

- Sou eu... – Disse de maneira depressiva. – Mas eu só a defendi...

- Errado. Pense mais atrás, não em um fato recente. – Retrucou cruzando as pernas.

- Como quando? – Indagou o jovem.

-Como quando ela me encontrará. – Uma outra voz disse, sentada ao seu lado. Um Nier de aparentes cinco anos, abraçando os joelhos falou no lugar do velho Nier.


- Certo...

Nier se lembrou de toda a jornada que fizeram até ali. Todas as coisas pelo qual passaram, todos os inimigos que derrotaram... Fizeram tantas coisas juntos. Riram, choraram, lutaram, viveram.

- Continuo vendo que eu fodi tudo... – Ele apoiou o rosto nas palmas das mãos.

-Essa natureza auto destrutiva já deveria ter passado há muito tempo... – Seu eu mais velho suspira e esfrega os olhos com o polegar e o indicador de sua mão direita, e volta a encarar seu eu mais novo. – Por que diabos Camille veio até você? Para sair pra brincar de lutinha pelo reino? Pra tentar achar um namoradinho? Pra virar uma guerreira?

- Não, ela veio para... – Ele deu uma pequena pausa, como se começasse a notar a realidade. – ...retomar o reino.

-Ora, retomar de quem? – Uma voz em suas costas disse. Levantando a cabeça, vira o mesmo que o arrastou para lá, o olhando de cima.

-Das Sete Virtudes Sagradas. Então...

-Se existe um culpado, são eles. – Disse o mesmo em suas costas.

-Pense mais. – Disse o pequeno. – Mais atrás. 10 anos atrás.

- Eles mataram a Rainha e o pequeno Tristan... e nos culparam.

-Toda essa dor, sua e de Camille, tem um culpado muito claro. Consegue notar agora? – Disse o velho.

- Então os verdadeiros culpados são a Psychomachia...


O jovem começa a sentir a ira tomar conta de seus corações novamente, como muitas vezes acontecera. Sua vista ficou turva, seu corpo leve e pesado ao mesmo tempo. Seus músculos hiper tensionavam, como se fossem explodir uma montanha apenas em um toque.

- Finalmente percebeu. – Todos desapareceram, com apenas o que lhe arrastou sobrando, sentado na cadeira, quase colada na sua. – O que eles fizeram?

- Eles mataram a doce Rainha, gentil com todos... o pequeno príncipe Tristan, uma criancinha... acabaram com os dias que a Saligia era reconhecida, com os tempos que não éramos rebaixados a simples criminosos! – Seu tom de voz crescia a cada palavra. – Eles pioraram a situação do reino, a desigualdade ficou mais gritante! Nobres acham que podem fazer qualquer coisa, desde escravizar os outros até estuprar mulheres! Dez anos vagando por Lioness me mostraram o caos que o reino se encontra! Pessoas morrem todos os dias por um abuso de autoridade de cavaleiros ou por sua negligência! Tudo isso por causa de um bando de covardes que tomaram o reino em um golpe de estado! Eles vão pagar! Eu não vou parar, até que eles sejam massacrados! – Cada frase era carregada de mais e mais emoções que explodiam de sua boca, revelando todos seus sentimentos guardados e enterrados por um sentimento de auto culpa e auto penitência.

Seu eu mais velho sorri friamente para as palavras ditas consumidas pela ira. Uma ira, um ódio puro e genuíno, capaz de por si só já ser o suficiente para os fracos recuarem. Uma ira capaz de destruir um reino nas mãos dos mais fortes. Uma ira que queimava como a raiva de todo um reino oprimido por centenas de anos. Uma ira odiosa digna do Pecado Capital da Ira.

-Então... acorde e os cobre!


Ele é arremessado para cima, em direção a luz que iluminava as cadeiras.







Nier finalmente abre seus olhos. Após ser capturado e selado pela Psychomachia, o capitão dos Sete Pecados volta a si. Seu olhar transparece um profundo ódio, rancor, raiva e... ira. A marca negra cobriu seu rosto, e seus olhos, que já exalavam suas péssimas intenções, agora passam um novo sentimento, que aflora no coração de seus inimigos.










Terror.


Zengate e Glenn suam frio ao ver o pecado se levantar. O miasma que antes era exalado dele era apenas uma suave brisa comparado ao que era emitido nesse momento. Eles sentiam suas entranhas se revirarem, e como se uma faca de gelo cortasse suas costas.

- Céus... parece até que eu fiquei quase um ano preso... – Falou se levantando do chão, olhando para baixo.

-Hey, Capitão, é muito bom te encontrar novamente! – Krioni deu um sorriso de canto.

O poder de Krioni parecia ressoar com o de Nier em termos de ira e potência, mas ainda assim a ira – e possivelmente até mesmo poder – de seu capitão era ainda maior. Krioni estava com seu ego ferido uma vez que tentaram o subjugar de uma maneira tão ridícula. Ele não estava furioso por conseguirem, mas furioso por tentarem dessa maneira, e em um rápido movimento ele se pôs ao lado de Nier.

-É o fim de vocês. Vocês devem ter notado que seus companheiros caíram, e em breve Hanna cairá, isso se já não caiu. Os outros membros da Saligia estão chegando, posso sentir daqui. – Falou categoricamente sua vantagem sobre seus oponentes. Ele virou a cabeça e viu que a expressão de Nier estava focada em seus oponentes, ignorando tudo que ele disse. – Torçam para que ele não os trucide, afinal...


Antes que Krioni pudesse acabar sua sentença, Nier dispara como um raio do lado de Krioni, em uma velocidade que nem ele sabia que era capaz de atingir. O mago do orgulho ergue sua mão e entoa um encantamento diferente do que o que Hanna usou, mas ainda assim, deixando Nier ainda mais forte do que antes, removendo os limites que ele impôs dezessete e onze anos atrás, após o incidente de Grisgandor e quando teve um mal pressentimento, respectivamente.

-... um demônio enfurecido nem um deus pode conter.


Antes que pudesse notar os movimentos de Nier, Zengate foi acertado em cheio com um soco em sua bochecha, sendo arremessado para o lado.


Quando pensou em se defender da colisão com a parede, sentiu um impacto em suas costas, sendo arremessado para cima. Por puro reflexo, ele ergueu seus braços para defender sua vanguarda. Porém o movimento logo se mostrou em vão, sendo atingido por um golpe extremamente violento no abdome.

Ao ver seu capitão ser subjugado dessa maneira e perceber que Nier estava carregando seu punho com magia, Glenn dispara uma seta mágica de luz na direção de Nier, que é prontamente congelada. Ele pega a agora lança de gelo e arremessa na maga, acertando Glenn em cheio e fazendo Krioni gargalhar.

-Sério isso?! Você tentou atacar uma pessoa com a capacidade de congelar magias com magia? Vocês eram o que quando éramos a principal força do reino, bobos da corte?

Glenn olhava com fúria para o Orgulho, mas é atingida nas costas, porém era muito grande para ser um soco. Pelo gemido de dor que ouviu, só podia ser uma coisa: Zengate.

Repentinamente, o peso em suas costas ficou maior. Dessa vez, não era como se tivesse sido enterrada em escombros, mas sim como se algo fosse colocado suavemente acima dela.

- E aí, Krioni. Há quanto tempo. – Uma voz conhecida por todos ali presentes falou, em uma posição estranha para Glenn.
Não é possível que esse pirralho esteja pisando em mim! Pensou a Castidade.

-Olá, capitão. Continua forte como sempre. – Respondeu Krioni, sorrindo satisfeito com a cena de Nier em cima das virtudes, dessa vez mais alto que ele.

- Você também. Gostaria de poder conversar agora, mas... – Nier pula de cima das virtudes e para em frente a Glenn. Se agacha com um sorriso suave no rosto olhando para a maga, nem mesmo sua marca ou olhos negros estavam ali. Bruscamente, seu sorriso doce, meigo e gentil muda para um frio, cheio de malícia e demoníaco, inclusive com seus olhos enegrecendo e a marca ressurgindo.


- Está na hora de pagarem por tudo que fizeram, e vou me divertir com isso... – Seu tom de voz era completamente atípico, como se não fosse ele falando. Sua ira o tomou por completo.

Nier chuta a face de Glenn, quebrando o nariz da maga e a fazendo voar para longe, rachando a parede com o choque de seu corpo.

- Krioni, está na hora de fazer o que deveríamos ter feito dez anos atrás!

-Camille!

Uma voz se ouviu chamar, ecoando no fundo de sua mente. Uma voz doce e gentil. Com certeza era a voz de Rose, sua mãe.


-Camille, o que aconteceu? Está toda suja...

- Sabe, mamãe! – Disse a pequena garotinha, de uns quatro anos. – Eu saí pra brincar junto do pessoal da Saligia, e eles me levaram pra passear no parquinho! – Ela estava faceira, feliz por ter visto os Cavaleiros que tanto adorava. – A tia Skanfy e a tia Lili foram na gangorra comigo, e o tio Takashi me deu um monte de sorvete, mesmo não tendo sorveteria ali perto... – Continuou contando seu dia. – O tio Gwyn sabe muito de moda e me ajudou a escolher um vestido novo, e ele sabe melhor do que as meninas como escolher boas roupas, as que elas gostam são meio bregas... O tio Asura me ajudou a fazer um castelo de areia e... – Ela parecia pensativa.

-E o que o tio Krioni e o tio Nier fizeram? – Perguntou a mulher, pegando a filha no colo.

- O tio Krioni me deu um montão de doces! – Falou animada. – E pelúcias! Ele consegue tudo que ele quer, ele é muito sensaciosanal! – Disse errado a palavra que não era muito habitual, arrancando uma risadinha da mãe. – Ele me disse que eu posso pedir qualquer coisa pra ele que ele vai me dar!

- E você pediu alguma coisa? – Perguntou Rose, achando a história da tarde de Camille muito divertida.

- Eu pedi pra ele me dar o coração do Nier! – Rose engoliu sua risada e seu espanto, virando o rosto para a filha não ver. – Ele é o mais legal de todos eles!

-É-É mesmo? – Disse Rose ainda segurando o riso pela sinceridade da filha.

- Sim! Quando eu crescer, eu posso casar com ele, não é mãe? – Ela parecia bem convencida do que queria. – Ele passeou comigo pela capital toda quando os outros foram atrás de uns bandidos, e me ajudou a colher flores! E ele comprou esse broche pra mim, olha! – A princesinha puxou o broche do seu vestido mostrando pra mãe, um broche personalizado do leão símbolo de Lioness com a tatuagem do Martelo da Ira. – Será que ele vai querer casar comigo quando eu crescer...? – Sua expressão se nublou.

-Claro que sim, Camille! – Disse Rose, tirando a expressão confusa da filha. – Com certeza você será uma linda mulher e vai conquistar qualquer homem! Principalmente ele, então não se preocupe. – Ela deu um beijinho na testa da filha. – Mas não acha que é hora de ir pro banho?













Por que eu lembrei disso agora? Pensou Camille. Ainda inconsciente, jogada no chão, não acordara como Nier. Por que eu lembrei de umas coisas de antes da mamãe morrer?

Mesmo que não soubesse, os outros ali na sala podiam sentir sua magia. Embora fosse facilmente ignorável por não apresentar ameaça como Nier ou Krioni, todos sabiam que ela estava acordando também. Notando isso, Krioni usou seu poder sobre o tempo e o congelou, para poder entrar na mente da garota.

-Olá, Camille. – Disse uma voz invasora em sua mente.

Ela abriu os olhos e viu um lugar escuro, numa camada de algo que parecia ser água sólida, onde estava deitada. Erguendo os olhos, viu a figura que estava invadindo sua mente. Um homem de cabelos azuis, com uma tatuagem no rosto. Tanto pelo cartaz quanto pela memória, foi capaz de deduzir quem era aquele. O último dos Pecados, Krioni.

- Oi... – Falou com o rosto fechado. Ainda se lembrava do que acontecera em Lestalum, onde esquartejaram um homem vivo em sua frente.

-Ora, vejo que ainda não superou aquilo. – Falou Krioni, ciente da situação. – Tomei a liberdade de vasculhar suas memórias para entender melhor como você foi sequestrada, e vejo que aquilo ainda lhe afeta.

- Você não deveria...

-... Entrar nas memórias dos outros? Eu sei, não se preocupe. Mas tais valores éticos precisam ser deixados de lado às vezes. E eu não vi nada além do que meus companheiros fizeram e como vocês foram sequestrados, então seus segredos estão bem guardados ainda. Embora eu possa ter curiosidade em que tipo de coisa você possa esconder, ainda não seria algo bom de olhar.

Os olhos verdes de Camille não deixavam de o seguir, enquanto andava em seu monólogo. Inclusive, ele encostou na película reflexiva e puxou uma cadeira com uma mesa e outra cadeira, de frente para a outra. A mesa era luxuosa, bem como as cadeiras. Em cima da mesa, havia um vaso de flores e alguns outros adereços, mas eram todos transparentes. Ele puxou uma cadeira e se sentou, e então ergueu a mão apontando para a outra, indicando para Camille se sentar também.

Ela apenas o encarou com o rosto fechado.

-Eu posso passar a eternidade inteira aqui, caso queira saber. – Ele falou semicerrando os olhos, obrigando Camille a se levantar do chão e sentar na mesa com ele.

Nesse momento de sua jornada, não sabia se fez o certo reunindo a Saligia. Não parecia a coisa mais segura do mundo sentar-se frente a frente com um criminoso que já não sabia o quão perigoso era, mas talvez fosse ainda menos não se sentar. Ela se levantou, e em silêncio puxou a cadeira para se sentar com ele.

-E então? O que lhe aflige, princesa? – Falou Krioni, juntando as mãos em frente ao rosto, para repousar o rosto.

Ela apenas o encarou. Não sabia por quanto tempo, talvez tivesse passado semanas quieta em sua frente, sem lhe dizer uma palavra.

- Por que tanta crueldade? – Falou, olhando para baixo.

-Ora, ela sabe falar!


-Bem, o que eu posso dizer? É difícil explicar para humanos essas coisas...

-Takashi também é um humano. – Respondeu levantando o olhar.

-Bom, sim e não mais. Ele já foi desconsiderado humano, muito mais novo que você. Talvez isso tenha afetado sua mente e destruído alguns parâmetros que você possui.

-E o Sir Ni–; E o Nier. E quanto a ele?

-Um demônio. Obviamente seus sentimentos são mais puros.

-Puros? Todo aquele ódio era algo puro?

-Sim, um ódio puro. Alegria pura. Felicidade pura. Tristeza pura. Demônios não como os humanos que misturam todas as sensações, criando uma amálgama de sentimentos. Como os que criou naquele dia. Embora odiasse o homem, ainda possuía algo que dizia que estraçalhar seu corpo era errado, vê? Era apenas ódio que ele sentia, enquanto você tinha mais do que ódio.

Camille se silenciou. Era uma informação difícil de digerir. Quando se deu satisfeita pelas respostas sobre os dois, voltou a falar.

- E os outros?

-Nenhum humano. Além do mais, todos tão quebrados quanto Takashi. O que nos tornou quem somos foi a violência que você testemunhou.

- Então...

-Aquilo era o que aconteceria normalmente, dadas nossas circunstâncias. Como se tal maldade e crueldade já tivesse se tornado parte de nós. Falo comigo incluso, pois ele teve sorte de eu não estar por perto. Um tempo atrás, descobri sobre uma propriedade física chamada “vácuo”, e gostaria de usar um corpo para testá-la. – Ele deu um sorriso com a ideia.

A expressão de Camille passou de irritada para confusa. Aquilo que testemunhou era a verdadeira face da Saligia? Pessoas violentas? Que apenas matariam qualquer um sem hesitar?

- Então foi um erro trazer todos de volta.

-Muito pelo contrário.

-Como assim?

-Por que não pega uma dessas flores e descobre por si mesma?

Sem nada a perder, e já com certa confiança em Krioni, Camille pegou uma das flores no vaso. Segurando com a mão, já fora do vaso, um misto de sensações absurdamente grandes invadiu seu peito. Falta de vontade, dor, tristeza e quase como um soco com toda a força de arrependimento.

-Ora, pegou justo a da sua amiga primeiro? Será que foi o destino ou foi sorte?

-O que... é isso? – Perguntou com lágrimas escorrendo de seus olhos.

-A flor do Pecado de Skanfy Lunae. Todas as sensações que ela sentiu naquele dia estão contidas aí. Esse arrependimento todo vem de não ter conseguido salvar ninguém, e agora não iria deixar por nada esse sentimento retornar.

Ela colocou a flor de lado, fora do vaso.

- E isso explica a crueldade?

-Sim. Nesse caso dela, em específico, seria por possivelmente querer destruir aquele que tocou em vocês duas, como aqueles que tocaram em seu povo, atrás de suas asas. Uma associação inconsciente, porém, palpável. Não gostaria de testar as outras?

Ela pegou a próxima, e sentiu como se estivesse sozinha no mundo. Sem ninguém em quem confiar. E todas as vezes que confiava em alguém, era como se fosse ser traída.

-Ora, Lilian? – Ele aparentemente sabia de quem eram cada uma das flores, pois não encostava em nenhuma ou fazia perguntas. – Imagine uma interminável busca pelo fim da solidão, onde a única coisa que se tem a frente é mais solidão. Solidão gera sequelas que o enlouquecem, e enlouquecer pode gerar–

- Crueldade.  – Ela pôs a flor de lado e pegou a próxima.

Um sentimento de medo, seguido de dor, tristeza e arrependimento em sequência a atacaram. Eram muito intensos, principalmente o primeiro. Como se caminhasse lado a lado com a morte.

-Druidas trabalham com mortos desde criancinhas, sabia? E isso destrói suas cabeças. Talvez isso explique muita coisa sobre aquele degenerado do Gwyndolin... E sabe, morte pode vir da crueldade humana. Pra ele, ele sempre fora criado na crueldade.

- Entendo... – Ela largou a flor de lado, e segurou a seguinte.

Tristeza sem fim, saudade e solidão, seguida por uma violência imposta sem chance de recusa. Aquele sentimento era familiar.

-Como eu disse, Takashi teve uma vida um tanto quanto difícil. Para sobreviver, teve que entrar de cabeça na violência. Nele é mais claro de onde isso veio.

Ela se manteve em silêncio e largou a flor do lado, junto das outras.

Pegou a próxima.

Uma sensação sombria, onde sentia que escorria de suas mãos tomou seu ser. Então, se seguiu a sensação de angústia, uma angústia sem fim e imparável. Uma angústia vinda da impotência.

-Vampiros são criaturas das trevas. Para eles, matar é igual a sobreviver. E como deve imaginar, muitos de seus semelhantes destroçavam suas vítimas.

- Então... Tudo isso foi gerado por esses sentimentos ruins? Tal crueldade e falta de remorso?

-Muito pelo contrário. – Falou a surpreendendo. – Todo esse remorso de não ter agido da maneira para evitar esses sentimentos ruins acabou por criar a crueldade. Talvez até como uma válvula de escape de todo esse remorso, se me permite dizer. A válvula de escape por não ser forte para salvar os outros. Por ser idiota de deixar as coisas acontecerem sem interferir.

- Entendo...


-Além do mais, sei que não preciso entrar em suas memórias novamente para descobrir que você conheceu a verdadeira Saligia, e não apenas esse lado assustador e cruel. O lado gentil que salvou as cidades por onde passou. O lado gentil que a salvou. O lado gentil que a fez rir das idiotices. E o mesmo lado gentil que os fez invadir uma cidade altamente fortificada para te salvar. Esses sentimentos ruins geraram tal gentileza. A dor da perda se transformou em compaixão. E ora, demonstrar compaixão às vezes lhe torna cruel. Proteger aqueles que ama pode envolver destruir um inimigo. Nós apenas não temos mais... parâmetros do que é aceitável para isso.

Ela olhou para a mesa de novo, pensativa. Havia apenas mais uma flor.

-Ela é sua ou do Nier?

-Eu recomendaria não encostar nela. E respondendo sua pergunta, é do Nier.

Sem pensar duas vezes, ela estendeu a mão para flor, fazendo Krioni arregalar os olhos.

A sensação mais forte de todas a atingiu. Uma dor absurda. Forte o suficiente para varrer Lioness do mapa. Tão escura quanto uma floresta à noite em um céu sem lua. Absurdamente terrível, como se entrasse num abismo de sofrimento, onde era arrastada para baixo em mais escuridão. Em um susto, acabou largando a flor, aos prantos.

-Tal dor, e medo de sofrê-la de novo, geraram a maior das crueldades, assim como a maior das gentilezas para compensar tudo o que passou. Acho que agora entendeu o que nos faz ser assim, não é, Camille?

- É... Eu acho... Mas ainda assim...

-E talvez você devesse ficar a sós para digerir melhor. Eu tenho um reino para salvar, e tal reino você chama de lar. Te vejo logo, princesa.

E sumindo no momento que Camille piscou os olhos, Krioni voltou ao mundo real.

Camille suspirou e passou a se debruçar sobre a mesa. Aparentemente, memórias de Zengate, que estavam sendo sentidas por ele, passavam para ela. O motivo daquilo? Não fazia ideia. Mas sentia toda a história da Psychomachia. Tudo que os tornou quem são hoje. Vendo aquilo, algumas lágrimas saiam de seus olhos. E então, lembrando das sensações sobre os crimes de seus amigos, mais lágrimas escorriam. Achava que eles eram como ela, criados sem tantos problemas em suas vidas. Desconsiderou tudo e apenas se deixou levar pelos sentimentos. Claro, a cena era assustadora e traumatizante, talvez não conseguisse esquecer daquilo, mas mesmo assim... Ignorou completamente as vivências deles. E isso fazia ela chorar mais ainda. E quanto mais via a história das Virtudes, e pensava que tudo aquilo estava se perdendo em uma luta, chorava mais ainda. Chorou ainda mais quando viu sua mãe morta novamente, queria apenas poder abraçá-la mais uma vez. Mas seu corpo estava suspenso pelos fios de Zengate.

Afinal, a Saligia era assim tão diferente da Psychomachia? Ambos destroçaram um corpo por seus desejos, e ambos justificaram de um jeito ou de outro. Mas um motivo estava presente nos dois. Vingança. Vingança pelo que fizeram com ela. Vingança pelo desprezo da Psychomachia. Vingança para a sociedade. Ela condenou um e perdoou outro, sendo que ambos tiveram desfechos imediatos diferentes, com seus amigos se satisfazendo com aquilo e seus inimigos se arrependendo amargamente. Ela condenava os que se arrependiam e perdoava aqueles que se glorificavam. Para alguém que se dizia ser tão justa, parecia completamente injusta agora. Apenas mais uma egoísta na sociedade, que se importa apenas com o seu e com o de seus próximos. Apenas mais uma hipócrita, que procurava desculpas para poder dizer que era virtuosa. Tais sensações de culpa por ser exatamente aquilo que combatia, engoliam a princesa em um mar obscuro que apenas a fazia chorar. Chorar. A única coisa que fazia. Todas as coisas, ruins ou boas que aconteciam, lágrimas saiam de seus olhos e escorriam pelo seu rosto. As de tristeza por não saber fazer nada. As de felicidade por saber que é uma inútil e que conseguiu fazer algo minimamente decente. No fim, Camille era realmente parte da Saligia, não por suas qualidades, e sim por seus defeitos. Uma princesa egoísta, inútil, hipócrita e melancólica. A Oitava Pecado Capital, Camille da Melancolia.

Quando Krioni decidiu enfrentar sua ex-aprendiz, apenas uma pessoa havia sobrado para Nier: Zengate, o capitão da Psychomachia. Após tantos anos, era hora de lutar contra aquele que matou Rose e criou todo esse reino de caos que estava em Lioness.

Com o olhar fixo em seu alvo, Nier disparou quebrando o chão atrás de seus pés. E antes mesmo que pudesse ver, a Virtude sentiu o impacto da mão fechada do Pecado em seu rosto.

O Capitão das Virtudes estava encurralado, sem muitas opções do que fazer. Nier era muito mais forte do que ele nesse momento, e estava completamente sem ideias de como poderia explorar alguma desvantagem. Não era mais veloz, nem controlava melhor a magia, muito menos era mais forte fisicamente. A sensação de ser superado em todos os aspectos era péssima, e ele apenas queria alguma maneira de equilibrar o combate.


Mas em um combate desses, com apostas tão altas na mesa, não tinha tempo algum para bolar estratégias. Muito mais rápido do que ele imaginava, Nier atingiu seu flanco com um chute, e se não fosse por instintivamente erguer seu braço, teria suas costelas estraçalhadas.

Porém isso lhe deu uma ideia. Ele conjurou diversos fios, e Nier hesitou por um segundo. O que Zengate fez não foi atacá-lo, e sim colocar seus fios mágicos em si, em todo seu corpo, além de criar um campo mágico ao seu redor.

Quando o instante que Nier parou passou, a Virtude da Paciência já havia feito seu movimento, mas ele não ligou e partiu para cima. Mas dessa vez, ele conseguiu desviar, e soltou um enorme sorriso.


Deu certo! Uma zona mágica com fios para criar um jeito de meu corpo reagir automaticamente incrivelmente deu certo!

- Está mais rápido, Zengate. – Comentou Nier sem mudanças no seu tom. – Porém continua igual a antes. Brilliant Hammer!

Nier concentrou sua magia em sua mão direita e partiu para cima do seu inimigo, acertando-lhe um soco em seu estômago, fazendo com que cuspisse sangue.

- Eu ainda não acredito que alguém como você fez com que a Saligia fosse condenada por matar a rainha Rose. Sério cara, você e seu grupo não são nada demais... – Comentou Nier, se acalmando e desfazendo a marca negra. Ele não considerava mais Zengate um oponente digno.


Nier colocou as mãos no bolso e foi andando para frente de Zengate, que estava ajoelhado no chão. Ele fez menção de chutar seu queixo, mas o esquivar automático fez com que desviasse, Nier mudou a trajetória da perna e acertou sua orelha.

-Olha, pro inimigo final você não é fraco demais? – Questionou o demônio, coçando o queixo. – Veja bem, em todos os livros de cavaleiros que eu li, os inimigos finais eram bem mais ameaçadores...

- Talvez porque você seja o inimigo final, tentando acabar com o Reino. Ou acha que eu não sei sobre você ser um demônio? Hanna me contou tudo sobre você!

-Sério? Eu até queria conversar contigo sobre esse assunto, mas eu quero mais é acabar com você e devolver Lioness pra Camille e pro Gallien.

- E eu não vou deixar todos esses anos de esforços serem jogados fora! – Berrou para Nier, que só mexeu o rosto em surpresa com a resposta acalorada.

Zengate partiu para cima de Nier, tentando acertar um golpe nele, mas todos foram prontamente esquivados. Ele ouviu Glenn gritar um código, e imediatamente saiu do raio de alcance, ainda tentando acertar o Pecado da Ira. Ele notava que sua companheira também estava numa situação complicada, e que talvez logo ele acabasse por ser o último da Psychomachia vivo.

E isso o levava exatamente para onde não queria. Ele sabia que mentia para seus Cavaleiros Sagrados sobre o sangue de anjos ser na realidade de demônios. Afinal, corpos de certas classes de demônios ainda estavam bem preservados após três mil anos devido ao seu tamanho enorme e resistência natural, ao contrário dos corpos dos anjos, que normalmente tinham o tamanho de um humano normal.

Ao que ele e Hanna pesquisaram, sabiam que o sangue de anjos funcionaria exatamente igual ao de demônio, porém com a diferença que sua aceitação pelo corpo seria muito maior, com algo em torno de 89% de aceitação total garantida.

E nesse caso, apenas o poder de um anjo para parar um demônio.

Estalando a língua, Zengate ajoelhou no canto onde estava e puxou um frasco do bolso, e recitando um pequeno encantamento, seu interior vazio se preencheu com um líquido vermelho. Empurrando com o dedão a rolha que o tampava, bebeu o líquido espesso com gosto de ferro, antes que Nier pudesse sequer entender o que ele estava fazendo de fato. Para o membro da Saligia, era apenas uma poção.

- Nier, você já lutou contra quantos anjos em sua vida? – Perguntou Zengate, comprando tempo.

- Não faço ideia. Nem lembro direito, pra falar a verdade. – Respondeu com sinceridade.

- Ótimo, pois eu vou refrescar sua memória sobre o que é lutar contra um ser divino. – Disse se pondo de pé. – Queria ter mais tempo para me adaptar ao novo poder, já que eles sempre vêm com uma explosão, porém... – Asas brancas brotaram de suas costas, e um brilho amarelado tomou seus olhos. – Eu vou liberar essa explosão em você.


Em um impulso que destruiu o chão atrás de seus pés, voou na direção de Nier, que ergueu os braços para proteger o rosto, mas o ataque de Zengate com sua espada o arremessou para longe.

Imediatamente, Nier se colocou em alerta máximo e, mesmo sentido o próximo ataque e conseguindo desviar da espada na altura do seu pescoço, se esquivando para trás, foi atingido por um chute no peito, o arremessando no chão.

Merda! Ele ficou mais forte e rápido! Aquilo que ele bebeu é sangue de anjo? Pensou o Capitão da Saligia, tentando se recompor para a luta que havia sido virada. Nier logo se pôs de pé, e quando a Paciência partiu para cima dele, mal conseguiu vê-lo novamente, porém conseguiu acertar um soco no rosto dele, quando se aproximou rapidamente.

Com seus novos poderes, Zengate tentou imbuir seus fios com a magia de luz dos anjos, que já viu Hanna usar algumas vezes. E inesperadamente, funcionou de primeira. Vendo isso, os usou para atacar seu oponente, que teve sua pele queimada pelo contato com a luz sagrada, fazendo ele gritar de dor.

- Finalmente te ultrapassei, Nier. Após tanto tempo–

- Eu ainda continuo mais forte. – Nier o interrompeu, ativando suas marcas negras novamente, com um olhar de ódio. – Meu poder ainda é maior que o seu, não se engane pelo fato de ter tido um aumento momentâneo.

Zengate estala a língua e parte para cima de Nier, explodindo o chão do castelo atrás de si, com Nier fazendo o mesmo, e em uma enorme velocidade, ocorre o choque da espada coberta de luz da Virtude contra a luva coberta de trevas do Pecado. Com a mão livre, o demônio mira um soco no rosto do oponente, que esquiva e tenta acertar um chute, mas é prontamente agarrado pelo pé e arremessado contra o chão.

Ainda no chão, ele usa seus fios para pegar um pedaço de escombro e arremessar em Nier, que quebra em um soco o grande bloco de pedra. Mas, detrás da pedra, surge Zengate, que o acerta com um soco no estômago, e logo emenda um chute na cabeça, que o arremessa contra uma parede, criando um rombo quando a atinge.

Esbaforido, Nier levanta e balança a cabeça, tentando se concentrar de novo. Mas não tinha tempo para isso, pois logo é puxado por fios de luz que a Virtude prendeu em seu corpo, indo de encontro ao mesmo, que fez seu punho brilhar.


- Judgement Light! – Gritou a Paciência, acertando um soco coberto de luz no rosto da Ira.

Mas que porra! O quão forte esse filho da puta ficou?! Se isso continuar assim...

Até Zengate estava surpreso. Não sabia o motivo, mas conseguiu absorver com possivelmente máxima eficácia os poderes de um anjo. Talvez apenas Hanna, Glenn e, por mais que não quisesse admitir, Krioni conseguiriam dizer após fazer testes com ele. Ele só tinha certeza de uma coisa: era melhor aproveitar isso.

Mesmo possuindo magias de controle mental, era melhor não tentar contra Nier, não sabia se Krioni havia plantado armadilhas por ali, prevendo isso no duelo entre os dois. Continuar do jeito que estava era um excelente plano.

Esticando suas recém adquiridas asas, desceu onde o Pecado estava caído. Olhando do chão, Nier viu a Virtude com suas enormes asas brancas direito pela primeira vez. Elas combinavam com seus cabelos igualmente brancos e a roupa – já não tão – alva que usava. Seus olhos agora brilhavam em um intenso amarelo, com a marca clássica dos anjos, um ponto com adornos ao redor. Tais olhos, embora trouxessem poucas boas lembranças, traziam, em sua maioria, lembranças ruins, embora as boas fossem o suficiente para mais que compensar as ruins. E Zengate nesse momento, apenas entrava pra lista de lembranças ruins desses olhos.


- Desista, Capitão da Saligia. Eu venci. – Respondeu calmamente.

- Vai se foder. – Respondeu Nier, se levantando cansado. Quando ergueu o rosto, foi atingido por um soco do seu inimigo. – Ficou putinho, é?

Após retrucar o soco com um xingamento, viu que seu inimigo semicerrou os olhos em desprezo, e aproveitou a brecha da provocação para lhe acertar um gancho em seu queixo, o fazendo sair do chão antes de tombar de costas. Provocações nunca falham. Pelo menos não quando eu faço.

Em um salto, o novo anjo se levanta com sua espada brilhando em luz, e mira novamente o pescoço de Nier, que iria desviar como antes e se preparava para o chute, porém, agora a espada muda sua trajetória o persegue. Em um reflexo, o demônio agarra a arma em um aplauso, a centímetros de seu rosto.

- Morra, Nier! Virtue Judgement Light!

A luz que a espada de Zengate emitiu foi intensa a ponto de cegá-lo momentaneamente. Quando o brilho forte se dissipou, viu que Nier não estava mais abaixo de sua espada, mas ainda estava vivo para sua infelicidade, mas ainda assim, bem acabado após receber o golpe, já longe dele.

Nier estava queimado pela luz, e secou o suor da testa com as costas da mão. Suas palmas ardiam, e os músculos dos braços pareciam que iriam rasgar pela dor. Mas Zengate continuava vivo, e talvez melhor que ele. Mexeu a cabeça para os lados buscando voltar ao estado normal, e sentiu que o anjo que enfrentava voltou a se aproximar.

-Dark Brilliant Hammer! – Gritou quando ele se aproximou a uma distância ínfima, acertando um soco na cabeça de Zengate, o arremessando para o lado.
O ataque de Nier causou um dano real no capitão da Psychomachia, que por um instante. achou que iria perder a cabeça. Seja por sorte ou por ser forte, manteve ela colada no pescoço. Havia esquecido que aquele era Nier, o Capitão da Saligia, e não um qualquer. Aquele golpe, olhando pelo lado que estava vivo, foi bom para o fazer manter os pés no chão e não achar que já havia vencido.

Nier aproveitou o momento que acertou o golpe para olhar onde Camille estava, que estava bem, embora parecesse estar chorando e murmurando alguma coisa. Respirando pesado, se volta para Zengate, e usa as marcas negras para recuperar os danos mais pesados, e mesmo que as queimaduras não tivessem sido completamente curadas, já não ardiam tanto. Mas algo que não era capaz de recuperar era o fôlego, então queria acabar o mais rápido o possível aquela luta. Cansado, ergueu os braços em paralelo, mirando Zengate.

- Dark Blazing Blast! – Gritou antes mesmo que o seu inimigo notasse o golpe, ainda em seu pequeno devaneio.

A torre deitada de chamas obscuras parecia queimar o próprio ar ao seu redor, criando ondulações chamuscadas. Quando atingiu Zengate, ele apenas pôde criar uma barreira de luz ao redor de seu corpo, que era cada vez mais queimada conforme o tempo passava, com algumas partes de fogo atravessando a barreira. Tal fogo queimava mais que o comum, sentia a intenção demoníaca e o poder das trevas ao redor das chamas.

Nier não parava seu ataque, gritava de dor, exaustão e falta de magia, mas não podia parar. Continuava a disparar com toda a sua força no seu inimigo, querendo queimá-lo até os ossos.


- Porra! Morre de uma vez! – Berrou enquanto sentia como se seus ossos rachassem e seus músculos rasgassem.

Quando Nier não conseguia mais manter o disparo, cessou e caiu de joelhos. E de dentro da fumaça, viu que Zengate continuava lá, em pé. Quase conseguiu destruir seu corpo, mas ele continuava vivo, e relativamente inteiro, com apenas algumas queimaduras gravíssimas. Vendo que Camille estava ali, ouviu de Hanna que ela também possuía sangue de anjo. Então, quase como algo lógico, usou fios que deixou desde antes nela para remover seu sangue, e quase como um vampiro, poder recuperar suas forças.

Embora fosse lenta a recuperação por ela estar dentro de uma magia de proteção de Krioni, era constante, e em pouquíssimo tempo poderia usar as próprias forças para se recuperar.

Já Nier, estava de quatro no chão, olhando para Zengate de pé, usando Camille para se recuperar. Quando se forçou para frente para atacá-lo, caiu no chão. Seu corpo já não obedecia mais.

- Esse momento entrará para a história de Lioness, Nier. – Falou Zengate, o encarando. – O dia em que eu me torno o rei anjo desse reino, após matar o demônio que atacou a capital e tentou tomá-la a força.

Então, pacientemente, Zengate começou a andar até Nier, com a espada em punho, com um fraco brilho de sua nova magia de luz em seus fios que revestiam a espada para o golpe final.

Krioni estava se divertindo com a situação. Tudo estava caminhando para o caminho que ele queria que fosse. Notou que Nier foi para cima de Zengate, o que deixava tudo livre para que ele enfrentasse Glenn, sozinho.

-Ora, ora. Vejo que terei que enfrentar minha tão adorada aprendiz... – Disse com a voz cheia de escárnio. – Se fosse possível, preferia ter que não fazer isso... – Disse fazendo com uma expressão corporal negativa. – Ao menos é o que você gostaria que eu dissesse, não é?

-Calado! Eu deixei de ser sua aprendiz faz muito tempo, Krioni! – Gritou Glenn. – Eu nunca precisei de você para me tornar uma maga poderosa!


-Por que você não me ataca de uma vez? – Krioni tinha um plano que queria pôr em prática, então era hora de começar a fazê-lo.


E como havia dito, ela fez. Diversas esferas elementais criaram-se ao redor dela, e todas foram disparadas contra o mago da Saligia. Ele apenas repousou a testa sobre a mão, fazendo um sinal negativo com a cabeça. Então teleportou para longe de cada uma das bolas, enquanto parecia legitimamente decepcionado pela falta de habilidade de Glenn.

-Sabe, eu não sei porque você é tão fraca. Talvez se treinasse por mais mil anos chegasse a me trazer alguma preocupação.

- Cala a boca, cala a boca, cala a boca, cala a boca, cala a boca! – Gritou com todas as forças. – Por que tudo que sai da sua boca me estressa tanto!? Você é insuportável!

-Obrigado pelos elogios. E a verdade machuca, sabia? Machuca tanto quanto... – Ele se teleportou para a frente dela, sem que ela pudesse ter sequer uma reação. – ... isso. – Ele encostou a palma da mão na barriga de Glenn, fazendo pressão em três pontos. – Impact Triquetra!

O impacto fez Glenn voar para fora do topo do Palácio, pela abertura no teto. Com alguma dificuldade, ela conseguiu voar. Não era a melhor voadora de todas, mas conseguia se mover com liberdade nos ares.

- Zengate! – Gritou ela no ar. – Vinte e cinco!

Ele imediatamente correu para o canto, mesmo que estivesse lutando contra Nier no momento. E em um movimento rápido, ela criou um grande círculo mágico, vindo de um selo que carregava no bolso, e disparou um raio de magia, que direcionou para Krioni.

-Nossa, você finalmente aprendeu a usar o Dragon Buster! Mesmo que tenha que usar um artefato para poder canalizá-lo... Enfim, é uma pena que o meu seja mais forte. – Ele ergueu uma mão em direção ao raio mágico de Glenn. – Dragon Buster! – Então disparou um ainda maior, destruindo quase todo o teto daquela parte do palácio.

A maga conseguiu se esquivar por pouco, voando para o lado. Mesmo que tivesse aprendido a usar a Dragon Buster, Krioni estava muito à sua frente. A sua magia foi engolida pela dele, como se não fosse nada.

Talvez eu realmente deva usar magias de um círculo maior... Mesmo que isso possa me deixar em coma, é o único jeito!

Logo após pensar, Glenn invocou seu cetro mágico, que possuía diversas contas presas em fios que caíam do seu topo. Cada conta era idêntica à que usou para disparar o Dragon Buster.

Já o mago da Saligia estava voando encarando Glenn, sem nenhuma dificuldade no ato do voo. Olhando com arrogância para ela, se perguntava se ela teria alguma carta na manga que pudesse o derrotar, mas duvidava disso.

- É hora de usar as magias do último círculo, Krioni! Nem mesmo você pode defender elas! – Gritou Glenn, apontando o cetro. Então, uma das contas explodiu.


-Eu devia ter matado essas coisas de “círculos mágicos” no passado, nunca imaginei que algo tão imbecil fosse seguir adiante... – Falou coçando a cabeça. – Mas o que vai tentar fazer? Usar uma אורורה אחרונה ou um רצון עז? Espera, você não sabe nem o que são essas magias... E elas são bem mais poderosas que a do “último círculo”.

-Cala a porra da boca! – Berrou Glenn. – Infinity Spear!

Uma enorme lança de luz, tão grande quanto uma torre do castelo, saiu do cajado de Glenn. Seu rastro de destruição era arrasador, mas Krioni apenas voou para cima da lança, e olhou bem de perto a magia, a examinando.

-Não é tão sólida quanto deveria ser. Se compactasse mais ela, transformando como uma lança normal, seria muito mais poderosa. Porém, fazer coisas grandiosas com magia é um bom jeito de amedrontar seus inimigos. Mas não funciona comigo. – Ele ergueu a mão e encostou na lança, enquanto usava uma magia. – Absolute Cancel.

E a lança de Glenn desapareceu em uma chuva branca.

-Aurora of the Everlasting Winter! – Uma enorme magia rotacional saiu voando do cajado. Uma magia fina como poucas conseguiam ser, verde que quase se dissolvia no ar. Ela se movia tão rápido que cortava o próprio ar.


-Crossing Stars Shield! – Krioni rapidamente ergueu suas mãos, colocando uma palma apontada para cima e a outra em sua frente, mas na horizontal, fazendo uma cruz. Em sua frente, como se fossem centenas de pequenas estrelas, um grande e poderoso escudo surgiu, segurando o ataque de Glenn.

-Horn of Calamity! – Glenn conseguiu voar para trás de Krioni e usar uma magia de ataque de curto alcance, criando um cone em torno de seu cajado para perfurar o mago.

-Ring of Dispell! – Prontamente, Krioni criou um anel mágico em torno do chifre, e a sua magia dissipou a de Glenn. – Admito que você tem um bom repertório de magias e que essas contas foram excelentemente feitas, mas não passam de coisas que eu lhe ensinei a fazer. Creio que eu ser um excelente professor tenha te ajudado, não?

- Eu nunca precisei do que você me ensinou! – Gritou indignada. Ela ergueu o cajado em sua direção, quase colado no rosto do mago. – Judgement Light!

Uma esfera de luz que destrói aquilo que entra em seu caminho foi direcionada para Krioni. Mas, pela enorme resistência mágica do Pecado do Orgulho, ele apenas foi arremessado com tudo em direção ao chão.

Mesmo assim, ela não acreditava no que fez. Conseguiu acertá-lo e o fazer voar para longe. Tendo concluído esse feito, seu peito se encheu de ânimo. Ela tinha de fato uma chance.

Quando ela aprendeu a usar a Judgement Light? Será que Hanna a ensinou? Ele estava surpreso, e isso o fez ser atingido. Não esperava que ela fosse usar uma magia dessas, principalmente sabendo da dificuldade em usar tal magia. Ele atingiu o chão, mas não se machucou.

Ele alçou voo e começou a procurar por ela por todos os cantos, mas não a achou em lugar nenhum. Ela havia conseguido fugir de sua visão.


- Grand Judgement Light! – De supetão, ela apareceu debaixo dele, usando uma versão ainda mais poderosa da Judgement Light, estourando três contas de uma vez.

Ele acabou sendo arremessado para cima de novo com algumas queimaduras na sua roupa, mas dessa vez não perdeu o olhar dela. Ela continuava abaixo dele, e dessa vez, cinco contas explodiram, enquanto preparava a próxima Judgement Light.

-Até qual nível você aprendeu? – Perguntou surpreso.

-O suficiente para te matar! – Gritou para responder. – Commandment Judgement Light!


Uma enorme esfera de luz, com diversos espetos que saíam dela, se dirigiu na direção de Krioni, pronta para desintegrá-lo dentro dela.