Palácio de Lioness

-Hmmm... Parece que vou ter que usar aquilo. – Falou calmo, olhando para a luz. – Espero que eu não tenha esquecido... Fazem três mil anos que vi usarem isso...

Ele ergueu as mãos em sua frente. Suas palmas ficaram negras, mais escuras que as noites mais sombrias da mais profunda floresta. Em poucos momentos, começaram a sair grandes massas de magia obscura de sua mão, criando um grande portão escuro em sua frente. Tal portão era completamente fechado, como enormes portas maciças de um castelo, igualmente detalhado com entalhes de guerras. Em cima dele, havia uma frase gravada em pedra. Vós que entrais aqui, abandonais toda esperança.

-Gates of Gehenna!

Com um pesado ranger de travas velhas, o portão se abriu, revelando o profundo abismo de escuridão. No momento que se abriu, começou a devorar toda a luz de Glenn e a do próprio lugar, absorvendo para suas trevas infinitas. Quando a última centelha da luz da magia de Glenn foi engolida pelos portões, eles se fecharam e sumiram no ar.

-Não... é possível... Essa magia é... uma magia de demônios! Onde você aprendeu isso? Ela foi banida há muito tempo, nem mesmo magos das trevas sabem a usar! – Ela estava desesperada com a visão que tivera. Não era para menos, afinal era uma das magias mais poderosas dos magos do Império Demoníaco de Geena.

-Ora, obviamente foi com eles! – Ele soltou um sorriso sádico, o que era raro em sua expressão. – Além disso, já cansei de brincar com você. É hora de acabarmos com isso.


Ele colocou uma das mãos aberta, como se estendesse para que ela a pegasse. Em seguida, colocou a outra por cima, erguendo os dedos indicador e médio. Nesse momento, as pontas dos dedos apontados para fora começaram a brilhar, e sua magia começou a crescer e afetar o ar ao redor, com um brilho quase ofuscante.

- Que magia... é essa? – Glenn sentia o poder mágico de Krioni crescer mais do que o último círculo comportava, segundo seus estudos.

-Constelações que adornam o céu, brilhem como supernovas! – Glenn suou frio. Um encantamento mágico. Magos os usam para conseguir canalizar enormes magias, mas ela nunca havia visto ele utilizar um pelo seu imenso domínio mágico, e ela mesma os usava, mas em formas de contas para pular as falas. – Que vossas luzes expurguem toda a escuridão da mais escura das noites, e sua força apague todo mal que há ante de minha presença. Sete poderosas estrelas do cosmos infinito, desçam ao meu chamado e destruam aquilo que se opõe a mim! – Ele tomou fôlego, e Glenn foi obrigada a fechar os olhos pelo poderoso brilho que havia em sua frente. – Seven Galaxy Shine!


Uma torrente de luz, como se os céus de Lioness queimassem por um segundo, desceu em direção a Glenn, obliterando seu corpo e cajado antes mesmo que pudesse notar o que aconteceu.

-Espero que isso seja um bom jeito de se despedir para sempre de um aprendiz, e também limpar seus crimes. Bem, é hora de ajudar Nier.

Antes que o mago pudesse continuar e ajudar seu amigo, ele sentiu uma presença ameaçadora que estava há uma distância mediana dali e ele não podia acreditar no que estava sentindo, era uma presença familiar, mas que ele não sentia há 2500 anos.


-N-Não pode ser... Aquele filho da p... Ele... Ele não pode, ele... ele foi selado... – Seu estado era catatônico. A presença era absurdamente forte, e ele sabia onde estava, e quem estava por perto. – A-Arthuria... Merda!

As palavras saiam dos lábios do mago com dificuldade, mas como em choque de realidade, ele notou o que estava acontecendo e se virou para aquela direção, e falou telepaticamente com Nier – ou esperava que fizesse, talvez apenas tivesse jogado palavras ao vento.

-Capitão... Eu preciso ir resolver uma coisa. Não poderei te ajudar com essa luta, então trate de vencê-la sozinho.

E assim, ele partiu voando naquela direção, com uma enorme preocupação e um grande arrependimento de não levar seu Tesouro Sagrado junto.

Passo a passo, Zengate se aproximou de Nier, e viu seu corpo caído no chão. O garoto de cabelos castanhos estava exausto, até mesmo sua respiração estava lenta. Cada vez mais recuperado, a Virtude se aproximava do Pecado, até se pôr de frente ao corpo inerte de Nier.

- Morra de vez, demônio imundo.


Dito isso, finalizou o trabalho perfurando as costas de Nier inúmeras vezes, para destruir seus corações.

Ele andou alguns passos após isso, e com lágrimas nos olhos, observava o céu de Lioness. Não havia nada que cobrisse o céu límpido do Reino, nem aves nem nuvens. Já estava no fim da tarde, porém ainda não o suficiente para ele ficar laranja.

-Eu... Finalmente me tornarei Imperador... – Disse enquanto as lágrimas escorriam de seus olhos para suas bochechas. – Eu derrotei um demônio que liderava a Saligia, e derrotarei os Pecados que mataram as Virtudes... Os sacrifícios de todos vocês não serão em vão, pessoal...! – As memórias compartilhadas com seus amigos passavam por sua cabeça, e tudo chegou nesse ponto, onde finalmente conseguiram seu objetivo, porém a que custo? Tantas mortes para que um fosse ao topo.

-Muitas pessoas partiram hoje, não é? – Uma voz assustou Nier.

- Eu... tô vivo? – Perguntou-se assustado.

-É, ainda está sim, querido. – Respondeu a voz.


Nier abriu os olhos e viu que estava em um belo campo, com a cabeça deitada olhando para o horizonte nas pernas da mulher que possuía a voz que falava com ele.

Tal voz era doce e afável, e o acolhia de uma maneira que não conseguia descrever. Estava confortável ali, e sentiu seus dedos ossudos passarem por seu cabelo. Ele foi virar sua cabeça para cima, mas a mão – realmente magra – o impediu.

-Eu não estou bonita hoje, não quero que olhe para mim. – Disse em um tom explicativo. – Muito trabalho. Deve saber como é, não é?

- É, às vezes o meu trabalho me deixa destruído... – Respondeu com sinceridade. – Mas, eu não deveria ter morrido agora?

-Bem, ele errou um de seus corações, embora ele tenha feito um corte perto dele. – Respondeu a mulher. – Você está por um fio.

-Então eu vou morrer? – Perguntou apreciando a paisagem.

-Depende. – Ele a sentiu ajeitar o corpo de maneira diferente. – Você pode continuar aqui e morrer, ou você pode pegar um presente que eu sempre quis te dar e voltar.

-Eu acho que quero a segunda opção. – Mesmo sem a mulher ver, sabia que ele estava sorrindo.

-Isso é ótimo! Bem, eu vou te dar esse poder e você vai ficar num estágio de semimorto. Então cuidado no combate. – Disse feliz.

-Certo, então vai me mandar de volta quando? – Respondeu Nier após ver que não foi mandado de volta na hora.

-Eu ainda nem expliquei como se usa esse poder! – A mulher respondeu chocada com a pressa dele.

-Mas eu não deveria aprender na hora como usar? – Questionou o garoto. – Como uma provação?

-Se eu fosse seu mestre, sim. Mas eu não sou seu mestre. – Explicou. – Bem, esse poder é uma espécie de transformação, como a de Zengate. Ela vai te deixar tão forte quanto ele, se não mais. Ah, e seu ataque final leva essa transformação junto, então não use em qualquer momento.

-Entendi... – Replicou o demônio. – Bem, saber como funciona já ajuda bastante. Então, já posso ir?

-Poxa, mas já? – Ela respondeu triste. – Bem, eu entendo que você quer salvar a sua namorada e o reino dela, mas mesmo assim...

-Ela não é minha namorada! – Gritou envergonhado.

-Tá bom, paixonite então. – Ela deu uma risadinha. – Bem, pode ir lá.

O corpo de Nier começou a se desfazer em fragmentos de chama preta, saindo daquele lugar.

- Obrigado por me ajudar, embora eu não te conheça... – Falou enquanto aproveitava a mão dela em sua cabeça

-Conhece sim, só não lembra. – Seu tom era um pouco decepcionado.

-Espero que possa te ver de verdade um dia.

-Nos veremos, pode apostar.

-Bem, até mais. – Seu corpo estava quase todo desfeito.

-Ah é! Quase me esqueci! – Nier estava quase todo desfeito quando ela chamou sua atenção.

-O que foi?! – Perguntou com urgência.

-O nome do poder! Eu não disse isso! É o gatilho pro ataque final!

-E qual é?! – Questionou enquanto se desfazia e recobrava a consciência.

-Como você... acordou?! – Zengate se virou impressionado.

Nier estava diferente. Sua aparência era pálida, como se tivesse perdido muito sangue. Os buracos em seu corpo continuavam abertos, porém não sangravam mais. Seus olhos continuavam negros, com a escuridão vazando para a esclera. As chamas, que sempre quando estavam consumidas pela magia demoníaca se tornavam arroxeadas, agora estavam completamente negras, quase como se devorassem a luz. Uma estranha capa de magia negra surgiu em seus ombros, como se fosse feita de fumaça líquida.

-Não te interessa, filho da puta. – Sua voz era estranhamente rouca. – Mas com esse poder, finalmente vou te fazer pagar por tudo que fez para esse Reino, para Rose e Tristan e para Camille.


-E o que seria esse poder? – Questionou sem fazer ideia do que poderia ser.

-Logo, logo, você vai descobrir o que é. – Nier sorriu com seus lábios ressecados. – Mas por que não dançamos para isso?

Antes mesmo que Zengate o respondesse, sentiu sua mandíbula quebrar com o impacto da mão de Nier. Se movendo tão rápido quanto, ergueu sua espada e cortou o braço dele fora.

Quando viu o membro começar a voar, sangue negro, juntamente de tendões mágicos voaram de ambas as partes, as reconectando. Sem prestar atenção por estar focado naquilo, que era estranho até mesmo para magia de demônios, não viu que a outra mão do Pecado atingiu com força suas costelas, esmigalhando algumas e o fazendo cuspir sangue.

Mesmo com o ferimento, mirou a cabeça de Nier, que esquivou em direção ao chão e chutou sua barriga, o arremessando longe. Quando atingiu a parede, sentiu outro impacto que esfacelou a cartilagem do seu nariz, que explodiu em sangue, e com o impacto sua cabeça chicoteou e atingiu a parede, criando uma cratera pequena.

-Holy–

Ergueu o braço para conjurar uma magia, mas Nier quebrou ele na metade e o apontou para cima, impedindo a magia de ser lançada, e se não fosse pela magia de anjos, Zengate estaria urrando de dor há algum tempo.

No instante em que ia continuar seus ataques, Nier notou que Camille estava acordando. Não sabia se gostaria de deixá-la vê-lo com essa forma, ou se era melhor acabar tudo antes de ela acordar. Seu impasse tomou mais tempo do que deveria, e quando foi receber um ataque com toda força de Zengate, se arremessou para longe. Ele restaurou alguns de seus membros e ossos quebrados e estava novamente de pé.

Nier se pôs ao lado de Camille, que lentamente abria os olhos, e embora tivesse ouvido que estavam lutando, ainda estava meio grogue. Continuava deitada, mas estava tomando ciência dos seus arredores.

-Eu acho que já entendi... Se um ataque for certeiro, você não vai aguentar. Seu corpo está frio, eu senti nos seus ataques e naquela hora que cortei seu braço. Você não está vivo, não é? – Zengate olhava fixamente para Nier. – Me diga, que porra está te mantendo em pé?

Nier permaneceu em silêncio por alguns instantes, como se confirmasse o que seu inimigo falou. Camille congelou no chão. Mesmo que estivesse irritada ainda e traumatizada, não queria que ele morresse. Se o que ele estava falando era verdade, ele iria morrer assim que acabassem a luta?

- Você vai descobrir. – Sua voz estava um pouco mais rouca que antes. – Não precisa se preocupar com isso, afinal você é a paciência, não é? Por que não espera mais um pouquinho?

Mesmo nesse estado, seu senso de humor provocativo em combates continuava afiado. Camille continuava com medo dessa luta, principalmente pelo fato de que Nier poderia morrer ou continuar morto.

-Mal vejo a hora. – Zengate falou disparando para cima de Nier, que empurrou Camille para longe com o máximo de delicadeza que o momento permitia.


Os ataques da Virtude eram ferozes e precisos, porém como se estivesse em outra sintonia, o Pecado desviava de cada um deles. Quanto mais um acelerava, o outro acompanhava. O próprio ar ao redor deles era quente ao ponto de derreter ferro, a aceleração era cada vez mais intensa. Até Nier acertar um chute no peito de seu inimigo, fazendo ambos se separarem.

De cabeça para baixo pelo chute, colocou seus braços em uma linha reta, concentrando magia forte em uma mão e compensando com fraca na outra.

- Blazing Blast!

Disparou a chama preta como o breu noturno, que Zengate desviou quase que inteiramente, com sua perna engolida pela torrente de fogo. O local quase imediatamente estava necrosando, e com muito esforço, conseguiu conter esse efeito colateral. Agora apenas poderia voar, e não mais pisar no chão.

Já o Pecado da Ira puxou ar com força, como se o faltasse na própria sala. Com a brecha, a Virtude da Paciência voou em toda sua velocidade para cima de Camille, querendo a usar como uma poção para recuperar sua perna e forças. Nier tentou imediatamente ir em sua direção, porém suas pernas falharam e não conseguiu sequer dar um passo.

-Vamos Camille, sirva a um propósito e dê sua vida pelo seu país! – Berrou para a garota, agarrando seu pulso.

Como se uma onda de choque corresse por seu corpo a partir de seu pulso, a princesa quase convulsionou. O sentimento era horrível, porém após instantes, outro completamente oposto a tomou. Êxtase. Zengate soltou seu pulso quando ela se encheu dessa sensação, já que parecia queimar.

Nier estava olhando em choque a cena. Zengate ergueu sua visão para Camille, que possuía olhos iguais aos seus, enquanto lágrimas escorriam pelas suas bochechas.


-Zengate, eu... – A raiva era presente em sua voz. – Eu te odeio. Você matou minha mãe e meu irmãozinho só para conseguir um posto que nunca mereceu. Você acha que seria um bom Imperador? Meu pai nunca se tornou um por não ser alguém que teria essa capacidade, e pessoas inteligentes reconhecem suas limitações. Você não, você é apenas um imbecil megalomaníaco que quer brincar de ser um deus. Você tanto pregou a supremacia humana, e agora está usando o poder de um anjo para ficar mais forte. Desde que a Saligia foi desfeita, você sempre quis comandar o Reino, e dava permissões que meu pai nunca aprovou, apenas para ganhar mais poder. Você é a pior escória que eu conheci em minha vida. Muito do sofrimento desse país é culpa sua, e apenas sua.

O discurso de Camille deixou Zengate sem chão. Sua magia, que antes era apenas uma fagulha, era tão grande quanto a de Nier, que já estava aumentada devido aquela transformação estranha. Quando foi erguer sua mão para atacá-la, gritou:

-Você nunca vai entender o que foram essas guerras que eu travei! Nunca entenderá a dor dos humanos contra os não-humanos, que se reuniam para brincar de quem matava mais humanos apenas por diversão, desde muito antes de qualquer um nesse reino nascer!

-Pode apostar que eu entendo, idiota do caralho. – Sua voz estava diferente, assim como sua postura. Ela ergueu a mão e encostou no peito dele, e com uma explosão luminosa o arremessou para longe. Um segundo depois, olhou surpresa. – Hein? O que eu fiz? E o que eu disse?– Ela estava genuinamente confusa.

-Vocês dois... Vocês dois vão se arrepender no além de terem decidido me enfrentar! – Ele estava reunindo o máximo de magia possível, para um provável ataque final.

-Ah, mas não vamos mesmo. – Nier falou conseguindo andar até Camille.


-Agradeço por esperar, acho que já dá pra te contar o que é essa minha forma que me mantém em pé, mesmo semimorto.

A garota estava curiosa desde que viu que ele estava estranho, e Zengate também, embora ele já não ligasse mais. Tudo que queria era matar aqueles que se opunham à ele e ao sacrifício de seus amigos.

-Sir Nier... – Ela falou quando viu ele ficar reto com Zengate.

A magia acumulada da Virtude estava rachando o próprio ar, com raios mágicos escapando e criando uma pressão absurda, que era ignorada por ambos.

O Pecado da Ira ergueu o braço, colocando sua mão reta, como se fosse para criar uma lâmina.

- Veja bem, até agora não entendi de onde veio esse poder, mas o seu nome é...


-Morram logo! White Nova! – Falou disparando como se fosse o ataque principal de Nier, Blazing Blast.

-Black Abyss of Caronte. – Ele abaixou o braço.

O ataque de Zengate era gigantesco. Poderia facilmente varrer toda a Capital do mapa. Porém, ao abaixar o braço, toda a magia que cobria o corpo de Nier, que lhe dava o poder de se manter vivo, foi colocada em apenas um ataque. A magia disparada pela Virtude foi cortada em duas, e engolida pelas mesmas trevas que engoliram sua perna antes. Seu corpo foi cortado em dois pelo Black Abyss of Caronte, e igualmente devorado pela escuridão. O golpe final de Nier, que levava o nome de sua forma, pôde ser visto por toda a Britânia, enquanto engolia a luz do sol por alguns segundos.


Com a destruição completa do seu inimigo e a ida do poder de Nier, o corpo do garoto retornou ao seu estado normal, sem buracos pelo tórax ou sua pele estar pálida. Ele cai de joelhos no chão, esbaforido e exausto. Então, o Pecado olha para trás e vê que Camille estava sentada no chão, provavelmente cansada de ter despertado uma magia tão poderosa, que ainda estava ativa.

Nier demonstrou um sorriso caloroso, gentil e aliviado, completamente oposto ao que sentia antes. A princesa notou isso e estava tão radiante que já haviam pequenas gotas nos cantos dos olhos. Logo pronunciou palavras doces e suaves para a princesa, que chorava de alegria.


-Eu prometi, não prometi? Retomaríamos o reino e derrotaríamos as Virtudes. Nós finalmente conseguimos! – Gritou algo que estava entalado em sua garganta.

-Sim! – Gritou a princesa, com a sensação de que toda sua jornada valeu a pena, e finalmente afastou a tempestade que pairava sobre Lioness.

Camille e Nier se levantam do chão e se encaram em um silêncio constrangedor. Então, ele quebra o gelo.

- Ei, Camille... você está bem? – Pergunta Nier preocupado após tudo o que passaram.

-Eu estou sim, ainda tentando entender de onde veio esse poder. – Diz sorrindo e leve com a situação. Nier se aproxima com receio de Camille, com medo de ainda estar magoada com ele.

-Então... você me perdoa? – Seus olhos demonstravam arrependimento e tristeza. – Nos perdoa?

Camille sorri e após dar um breve suspiro, coloca as mãos na cintura.

-E como eu poderia ficar chateada com vocês? Tudo bem que na hora magoou, mas... – Ela se lembrou de seu diálogo com Krioni em sua mente. – Águas passadas não movem moinhos. Claro que os perdoo, mas e você Nier? Você está bem? – Diz a garota ao olhar o pecado mais de perto. Ele sorri com felicidade ao saber que a princesa o perdoou.

-Eu estou ótimo, só um pouco... cansado... – Nier cai de joelhos novamente no chão pelo cansaço da luta e por usar sua marca negra por tanto tempo, além de ter usado a Black Abyss of Caronte. Camille se ajoelha à sua frente, tocando com um de seus dedos em seu nariz.

-Puxo sua orelha agora ou depois? – Ela solta um leve suspiro. – Você é especial pra mim...- Quando notou o que disse, tentou corrigir. – Digo, todos vocês! Por isso tome cuidado de agora em diante... – Camille desvia o seu olhar do de Nier, envergonhada pelo que disse. Ele começa a rir pelo que ela falou, e coloca uma mão em sua cabeça.

-Não precisa puxar minha orelha nem nada do tipo. – Ele envolve Camille com seus braços, a abraçando e se jogando no chão, a levando junto consigo. – Você também... – O garoto aproxima sua boca do ouvido da princesa e sussurra gentilmente. – ... é especial para mim.

Camille desiste de qualquer tentativa de fuga e coloca sua cabeça sobre o peito de Nier, completamente envergonhada. Seu rosto estava quase da mesma cor de seu cabelo.

-Só não quero que se machuque, não aguentaria te perder. – Ela sorri gentilmente. – Se tiver algum lugar onde esteja machucado, me avise por favor, não gosto quando esconde as coisas de mim. – Ela ergue a mão para acariciar a região da bochecha do Pecado.

-Acho que estou com o corpo inteiro machucado... – Ele dá uma risada sem graça, enquanto mexe nos cabelos vermelhos-rosados de Camille. – Finalmente, acaba–

Ele para de falar abruptamente olhando para a porta do salão, após ouvir um barulho.

-Ora, ora, vejam o que temos aqui!


Skanfy se deleitava ao ver Nier e Camille em uma pose bem... íntima. Nier olha nos olhos da fada, que parecem fazê-lo ser um nada. Ele desvia o olhar para Lilian, que estava atrás da preguiçosa, completamente vermelha, mas ainda mais curiosa do que a amiga. Buscando algum olhar que a conforte, ele encontra com os olhos de Takashi.

-Eu não estou aqui, podem continuar. – Ele se vira de costas e começa a andar para longe, mas é segurado por Asura. O garoto sentia seu rosto arder como se estivessem passando ferro quente nele, e Camille compartilhava da sensação. Antes de falar, Asura se coloca entre Gwyn e Takashi e aponta para o casalzinho.

-Se eles estão tão juntinhos assim, então significa que eles já transaram antes, né? – Quando acabou de falar, sentiu a mão de Skanfy acertando com tudo a sua nuca, e quando foi levantar a cabeça, sentiu a de Lilian. Nier e Camille olhavam para ele, que estava sendo xingado de dedo por Skanfy.

Quase que com lágrimas nos olhos, Nier olha para Gwyn, que estava maravilhado com a fofura do momento. Ele sorri e faz um coração com a mão para eles. Ambos se sentem aliviados, mas são engolfados pela vergonha no gesto seguinte do necromante.






Algo completamente digno do Pecado da Luxúria.

Os pecados riem dos dois. Até que Camille, completamente tomada por vergonha, se levanta ainda no colo de Nier e grita:

-N-N-N-N-N-N-N-N-N-N– A cabeça de Camille entrou em parafuso pela vergonha que estava sentindo. – Não é nada disso! – Gritou com toda sua força.


A magia proveniente de seus olhos surge, e com uma lufada de poder, arremessa os Pecados que estavam na porta para trás, juntamente de Lancelot e os Cavaleiros Sagrados.

Apavorados, os cinco voltam correndo para o salão, afinal algo novo acabara de acontecer. Camille usou uma magia poderosa, e que nenhum deles sequer conhecia.

-Camille, desde quando você pode usar magia?


Skanfy olhava assustadoramente para a amiga, como se a morte fosse algo feliz perto do que ela pretendia fazer. Foi a primeira a conhecer Camille depois de Nier, então a conhecia já fazia bastante tempo.

-Eu só sei que usei agora a pouco, não consegui usar nunca antes...

Antes que Skanfy pudesse prosseguir e fazer drama, eles são interrompidos por um baque seco no chão. Krioni chegou em um teleporte no salão, com o corpo desacordado de Arthuria. Sua expressão era algo que raramente era vista pelos pecados.

Medo.

-Pessoal, deixem a reunião para mais tarde! Isso ainda não acabou! – Gritou com força.

Todos se põem em alerta. Camille sai dos braços de Nier e também se posiciona para combate, atrás de Skanfy. Nier toma a linha de frente e para na frente de um Krioni atônito.

- O que você quer dizer com isso? – Questiona fazendo algum esforço para se manter em pé.

Antes que Krioni pudesse explicar, eles ouvem uma explosão vinda da floresta.

-Lancelot! Pegue Arthuria! Vou teleportá-los para Camelot! – Seu semblante era péssimo. Parecia que seu pior pesadelo tinha se realizado.

Lancelot acata de imediato as ordens do mago, que sem olhar os teletransporta para Camelot. Com um integrante extra na magia. Edward, que lutou junto dos Cavaleiros e Pecados, acaba sendo enviado junto.

Mas antes que algum dos Cavaleiros pudessem mostrar indignação, o desespero os tomou. Algo surgiu na linha do horizonte, como se uma montanha tivesse se erguido. Nier ordenou que eles não interferissem na batalha e fossem ajudar os cidadãos do reino, pois algo terrível poderia acontecer...

-Mas nem fodendo... Isso é obra dele?! – O mago falou horrorizado vendo a cena diante de seus olhos.

Cerca de cinco mil anos atrás, uma besta era temida pelos mais poderosos grupos de guerreiros. Um poder descomunal, que trazia destruição por onde passasse, havia sido liberto. As lendas contam que seu poder era tamanho que reinos eram esmagados pelo seu ímpeto. Um dos mais poderosos monstros que já havia pisado foi solto.

Selado há cerca de três mil anos, antes mesmo do fim da Segunda  Guerra Santa, após uma grande batalha, agora o ser brutal estava solto de seus grilhões. Tal criatura, temida por anjos e demônios, solta um potente rugido que faz o chão tremer como um terremoto. A magnificente besta titânica que pode ser considerada ainda mais imparável que um desastre natural atende pelo nome de...